TA - Agosto/2006 - Base de Junho/2006

Quase 1 trilhão sob gestão das assets

Edição 172

Os juros altos e o bom desempenho das bolsas de valores ajudaram a elevar o volume de re cursos sob gestão para a casa dos R$ 963 bilhões ao final do primeiro semestre, que representa um crescimento de 26,3% no período de doze meses

A área de gestão de recursos de terceiros fechou o primeiro semestre do ano com R$ 963,43 bilhões em caixa, representando um crescimento de 13,48% em seis meses e de 26,30% em um ano. Contribuíram para esse bom desempenho tanto os juros altos vigentes no período quanto o bom desempenho das bolsas de valores, que aumentaram o apetite de risco dos investidores e impulsionaram as vendas de produtos mais sofisticados e também mais apimentados.
Em razão dessa postura dos investidores, as aplicações em títulos públicos tiveram um desempenho abaixo da média, com crescimento de 6,22% em seis meses e de 14,52% em doze meses, enquanto as aplicações em títulos privados apresentaram uma elevação de 31,95% e 46,14% nos mesmos períodos, respectivamente. Isso mostra que, em busca de maiores rentabilidades para apresentar ao mercado, os fundos de investimento passaram a buscar mais papéis de empresas privadas de primeira linha para colocar em suas carteiras, em detrimento dos títulos públicos. E, pelo crescimento demonstrado por esse segmento, parece que os aplicadores responderam bem a essa iniciativa.
Também cresceram as aplicações em fundos de direitos creditórios, mais conhecidos como fundos de recebíveis, que fecharam o primeiro semestre com R$ 11,76 bilhões. Isso representou um crescimento de 111,81% em seis meses, demonstrando o vigor desse tipo de aplicação. Como a revista Investidor Institucional só começou a medir o desempenho desse segmento há seis meses, não temos uma comparação no período de um ano, como fazemos nas outras categorias. Mas, certamente, deve ter apresentado crescimento compatível com o apresentado no período de seis meses.
Também apresentaram crescimento significativo as aplicações em ações, que alcançaram R$108,86 bilhões no último dia de junho, representando 11,30% do total de recursos sob gestão. O crescimento dessa carteira no período de seis meses foi de 19,92% e no período de doze meses atingiu 50,57%. Refletem, em grande parte, o otimismo dos investidores com esse mercado, onde os prêmios têm sido bastante bons e grandes oportunidades foram criadas com as ofertas públicas iniciais, no final do ano passado e início deste. Embora essas ofertas iniciais tenham se retraídos nos últimos meses, especialistas acreditam que elas devem voltar a acontecer em alguns meses.
Outra aplicação que vale a pena ser destacada é a dos fundos de terceiros, basicamente bancos de varejo comprando cotas de fundos de assets especialistas. Ao final de junho esse ativo já representava R$ 33,21 bilhões, uma alta de 44,80% em relação há seis meses e de 110,28% em relação há doze meses. Isso mostra que análise adotada por muitos especialistas do mercado, apontando que a indústria brasileira segue o que acontece nos Estados Unidos com alguns anos de atraso, é correto.
Os canais brasileiros de distribuição de fundos, assim como já ocorre nos Estados Unidos, também passaram a oferecer produtos de assets menores, dando um grande impulso a esses gestores independentes.

Segmentação por cliente – Quanto à divisão do bolo da indústria de gestão por tipo de cliente, os fundos de pensão, a capitalização e os investidores estrangeiros são os que apresentaram o pior desempenho, com volumes sob gestão que cresceram 6,16%, 5,56% e 3,97% em seis meses, respectivamente. Crescimento de volume inferior teve o varejo, mas como o crescimento do midle-private era antes contabilizado dentro do varejo, e foi retirado dele há seis meses, isso torna a comparação indevida.
Os segmentos com maior crescimento nos valores sob gestão foram os regimes próprios (institutos de previdência de estados e municípios), recursos federais, de estados e municípios, empresas médias e midle- private, com 73,46%, 58,77%, 119,82% e 76,82% em seis meses, respectivamente. Os segmentos com crescimento médio nos valores sob gestão foram a previdência aberta, as seguradoras, o corporate e o private, com 12,69%, 6,89%, 12,17% e 13,46% em seis meses, respectivamente.
“Não tem entrado dinheiro novo no sistema de fundos de pensão, o crescimento do sistema tem sido mais vegetativo e baseado na rentabilidade das aplicações”, avalia o diretor de clientes institucionais do Itaú, Alexandre Zákia.

Fundos de pensão – O Itaú é hoje o maior gestor privado de recursos de fundos de pensão, com R$ 29,51 bilhões captados, contra R$ 26,86 bilhões há seis meses. No período, isso representa um crescimento de 9,86%, o que representa um aumento de 3,7 pontos percentuais acima da média do setor. “Apesar de não termos tido grandes concorrências envolvendo os recursos das fundações, nossa participação no setor está subindo”, explica Zákia. “Em grande parte, isso se explica pela rentabilidade das nossas carteiras”.
Segundo ele, uma pesquisa interna feita pelo Itaú aponta para a liderança na rentabilidade de 67% das carteiras de renda variável administradas pela instituição. “Temos feito um investimento muito forte em gestão, o que tem propiciado um retorno muito bom para os nossos produtos, principalmente na renda variável”, afirma.
O primeiro do ranking em fundo de pensão continua sendo a BB DTVM, uma espécie de concorrente hour-concour, por causa da participação da carteira da Previ em seus volumes. “A Previ tem, realmente, parte significativa das suas aplicações conosco, mas não é tanto quanto se fala.
E estamos crescendo na área, hoje quase todas as grandes fundações, e também algumas médias, tem aplicações conosco”, afirma o gerente executivo de fundos especiais da BB DTVM, Fernando Manuel Ribeiro.
A BB DTVM tem R$ 44,56 bilhões em recursos de fundos de pensão, o que representa uma queda de 3,37% em relação aos R$ 46,11 bilhões de seis meses atrás. Para Ribeiro, essa queda não é significativa. “Pequenas oscilações nesse mercado são naturais”, diz. “Para nós, é importante manter a participação nesse mercado, pois como nele as taxas de administração são baixas é importante ter escala”.
Segundo Manuel Ribeiro, a BB DTVM está investindo em novas plataformas, como os fundos multimercados. Ele sabe que, com a queda das taxas de juros, o mercado de institucionais vai migrar da renda fixa para produtos mais agressivos, que vão dos multimercados à renda variável. “Esperamos um maior volume de recursos dos institucionais para os multimercados”, diz.

Regimes próprios – A BB DTVM é também a maior gestora de recursos de regimes próprios, com R$ 4,76 bilhões sob gestão. “É um segmento que está em rápido crescimento, com a disputa se acirrando, mas nossa proximidade com as prefeituras ajuda no relacionamento com esses regimes”, afirma Ribeiro. “Desenvolvemos fundos específicos para esse segmento, baseados na legislação de investimento deles”.
O segundo desse segmento é a Caixa, com R$ 3,19 bilhões, representando um crescimento de 31,20% em relação a seis meses, quando tinha R$ 2,43 bilhões. “Temos focado bastante a nossa atuação nesse segmento, porque achamos que tem grandes perspectivas de crescimento”, explica a superintendente de produtos para ativos de terceiros, Fátima de Oliveira. Segundo ela, todas as agências da Caixa tem um gerente especializado em regimes próprios, capacitado para atender os dirigentes desse sistema.
De acordo com Fátima, a Caixa mantém 15 produtos adequados à legislação nº 3.244, que regulamenta os regimes próprios. Desses, três fundos foram formatados exclusivamente para esses investidores, sendo um específico para os institutos do Rio Grande do Sul, o segundo para os institutos de Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, e o terceiro para institutos do Brasil todo. Esse último, que cobra taxas de administração decrescentes de acordo com a evolução do patrimônio líquido do fundo, começou com a taxa de 0,40%, desceu para 0,35% e hoje está em 0,30%, com um PL de R$ 560 milhões. Fica nesse patamar até os R$ 800 milhões, quando desce para 0,25% e, acima desse patamar, desce novamente para 0,20%.

Previdência aberta – Na área de previdência aberta, o principal gestor é a Bram, do Bradesco, com R$ 40,18 bilhões, que representa um crescimento de 7,40% em relação a seis meses atrás. “É o segmento previdenciário que está apresentando as maiores taxas de crescimento, junto com a previdência fechada multipatrocinada”, analisa o diretor comercial da Bram, Adolfo Alviço. “Esses segmentos crescem com a entrada de novos planos corporativos e até por migração de fundos fechados”.
A Bram também está na liderança dos recursos de seguradoras e capitalização, com R$ 8,53 bilhões e R$ 2,84 bilhões, representando um crescimento de 20,99% e 2,56% em relação a seis meses para cada segmento, respectivamente.
Ainda de acordo com Adolfo Alviço, a Bram está se preparando para um cenário em que os investidores estarão em busca de produtos de maior exposição a risco. Se antes um fundo de renda fixa podia dar 102 a 103% do CDI, com a taxa de juros em queda isso deixa de ser viável. Para atender essa nova expectativa de risco dos investidores, tanto institucionais quanto corporate e private, a Bram está desenvolvendo novos produtos, basicamente de fundos multimercados. Esses fundos separados da atual estrutura de renda fixa, passando a fazer parte de uma estrutura própria sob o comando de Luiz Roberto Zaratin Soares (ver página 24).

Private – Na área de clientes private e midle-private, o Itaú lidera com R$ 19,21 bilhões e R$ 17,90 bilhões, respectivamente. Em relação há seis meses, o crescimento do Itaú junto a esses clientes foi de, respectivamente, 21,42% e 17,15%. “O segmento de clientes private está crescendo muito, um dos principais motivos são as aberturas de capital das empresas, cujos controladores ou grandes acionistas vendem participações ao mercado e aplicam os recursos no mercado”, explica o diretor da área de private do Itaú, Liwal Salles. “Mas, normalmente, eles dividem o dinheiro entre vários bancos”.
Segundo Salles, o cliente private está muito mais exigente do que há cinco anos. Hoje, o cliente quer não só um private que tenha fundos de investimento, mas uma estrutura que consiga planejar e acompanhar toda a sua vida financeira, envolvendo-se não só com as suas aplicações mas até com o planejamento tributário e as questões sucessórias do seu negócio. “Esse é um cliente que paga uma boa taxa, mas é muito bem informado e está cada vez mais exigente”, explica.
De acordo ele, a compra do Boston deve permitir ao Itaú elevar a sua carteira private em cerca de R$ 4 bilhões. “Ao contrário do que muitos estão dizendo, não existe duplicidade de clientela, o que existe é uma complementaridade”, garante Liwal Salles.

Outras assets – O Pactual é o maior gestor de recursos de outras assets, com R$ 8,70 bilhões desse segmento, um ganho de 8,57% em seis meses. Para o diretor da asset do Pactual, Rodrigo Xavier, a instituição foi a primeira a apostar na estrutura de distribuição aberta. “Tínhamos que apostar nisso, afinal somos um banco de atacado e não temos rede de distribuição”, explica. “Precisamos da rede de distribuição dos outros bancos para vender os nossos fundos”.
O que facilitou a parceria com os grandes bancos foi o fato de não ser um concorrente, justamente por não ter varejo. “Isso deu a eles tranqüilidade para oferecerem aos clientes os nossos fundos. Não havia medo de concorrência”.
O Pactual é um dos principais bancos de atacado do País, tendo sido vendido ao UBS em meados do semestre passado. O negócio ainda depende da aprovação final do Banco Central, mas o cenário já é considerado irreversível. “Já estamos trabalhando numa relação de parceria”, diz Xavier.
Ele avalia que o atual momento exige cautela, apesar do cenário macroeconômico favorável. “Nosso perfil de gestão é cauteloso, preferimos abrir mão de um pouco de rentabilidade em favor da segurança”, considera. “Não é porque acredito que as taxas de juros vão continuar a cair que vou tomar grandes posições em pré-fixado. Estamos indo devagar”.
Segundo Xavier, a bandeira do UBS vai facilitar principalmente o acesso aos mercados internacionais, no qual o Pactual já tem uma participação de R$ 5,01 bilhões, atrás apenas da BB DTVM, que possui R$ 6,13 bilhões.
Para o diretor de fundos especiais da BB DTVM, Fernando Manuel Ribeiro, a participação de clientes estrangeiros na carteira da instituição é resultado das aplicações de empresas exportadoras, que mantém recursos no exterior. “Esse é um segmento com grande potencial de crescimento”, afirma. “Com a queda dos juros internamente, as empresas vão ter menos interesse em internar os recursos, aplicando lá fora mesmo”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *