Mais de R$ 1 trilhão sob gestão
Edição 178
Liderança do ranking é da BB DTVM, mas com a compra do Boston o Itaú aproxima-se bastante da primeira posição. Distante dos dois, Bradesco e a Caixa aparecem num segundo bloco, com ligeira vantagem para o banco privado
O mercado de gestão de recursos fechou dezembro do ano passado com um volume total de R$ 1,068 trilhão, representando um crescimento de 25,89% sobre o mesmo período de 2005. Esse crescimento soma a valorização dos ativos durante o ano, principalmente em conseqüência da alta do Ibovespa, com a entrada de dinheiro novo no mercado.
Tem entrado dinheiro novo de clientes que tradicionalmente aplicavam em CDBs e caderneta de poupança e que estão migrando para fundos de investimento, além de novos aportes no segmento de previdência complementar, tanto na aberta individual e corporativa quanto na fechada.
Há também recursos de investidores externos e de pessoas físicas de alta e média renda engrossando o mercado de gestão.
No ranking dos gestores, a compra do BankBoston pelo Itaú fez com que esse último se aproximasse bastante da BB DTVM na disputa pela liderança. Apenas R$ 7,44 bilhões separam a área de gestão de recursos da BB DTVM, que tem R$ 182 bilhões em recursos de terceiros, da área de gestão do Itaú, com R$ 175 bilhões. O terceiro gestor do ranking, a Bradesco Asset Management (Bram), aparece já bastante distante desse primeiro bloco formado por BB DTVM e Itaú, com R$ 129 bilhões, logo acima da Caixa, que tem R$ 128 bilhões.
Exclusivos – Um aspecto que fica evidente nesse ranking é a continuidade da busca dos investidores por fundos exclusivos, cujos volumes aumentaram 30,32% no período de 12 meses encerrados em 31 de dezembro de 2006, para R$ 390 bilhões. Os fundos condominiais cresceram bem menos, apenas 20,15% no mesmo período, para R$ 478 bilhões. As expectativas de que os fundos exclusivos minguariam em conseqüência do fim da cobrança da CPMF sobre os investimentos, em vigor desde o final de 2004, não se confirmaram.
Para o presidente da BB DTVM, Alberto Monteiro de Queiroz Netto, a tendência é reflexo da evolução de muitas fundações e corporações, que estão passando de um tamanho médio para grande. “Ao se tornarem grandes, tanto as fundações quanto as corporações tendem a manifestar interesse nos fundos exclusivos para suas aplicações”, explica. Ele acredita, porém, que com a queda da atratividade da renda fixa e a migração das aplicações desses investidores para produtos mais sofisticados, a tendência de criar fundos exclusivos deve declinar.
Outro destaque do ranking é o aumento dos recursos alocados nos fundos off-shore, refletindo o crescente interesse dos investidores externos por comprar ativos brasileiros. Esses fundos encerraram 2006 com um volume de R$ 32,8 bilhões aplicados, uma alta de 49,94% em relação ao mesmo período de 2005.
“Claramente, os estrangeiros estão antecipando um movimento que acontecerá nos próximos anos, quando o Brasil se tornará investment grade”, analisa o vice-presidente de gestão do BNP Paribas e vice- presidente da Anbid, Marcelo Giufrida. Esses investidores estrangeiros estão aproveitando os últimos benefícios de uma taxa de juros ainda elevada para os padrões internacionais mas também já começam a engordar as carteiras dos fundos de perfis mais agressivos.
Mais risco – Os fundos de pensão, que no passado relutaram em entregar a gestão dos seus ativos às assets, hoje mantém apenas uma parcela menor sob sua própria gestão. De um total de R$ 351 bilhões em ativos que possuíam ao final do ano passado, exatos R$ 214 bilhões estavam entregues à gestão das assets, um volume 21,14% superior ao registrado 12 meses antes, quando tinham R$ 176 bilhões sob gestão das assets.
Neste ano, as políticas de investimento dos fundos de pensão devem sofrer uma forte revisão. A razão é, mais uma vez, a queda das taxas de juros, que tira a atratividade dos tradicionais fundos DI e impede as fundações de continuar a auferir com eles as mesmas rentabilidades do passado, que possibilitavam o cumprimento com folgas das metas atuariais.
Em conseqüência, elas terão que rever suas estratégias de investimento.
Muitas já começaram esse processo no ano passado, outras vão começar ainda neste ano. “O ano de 2007 será um ano importante para as fundações, pois elas precisam atualizar suas políticas de investimento”, comenta o diretor da área de clientes institucionais do Itaú, Alexandre Zákia. “As fundações têm suas peculiaridades, cada uma tem uma meta atuarial diferente, tem planos diferentes e tem ALM (Asset Liability Management) diferentes, mas com a queda da taxa de juros todas vão ser obrigadas a assumir mais risco para obter melhores prêmios”.
Isso vale tanto para a previdência fechada quanto para a aberta, cujo volume de recursos sob gestão evoluiu de R$ 76 bilhões para R$ 97 bilhões na comparação de dezembro de 2005 com o mesmo mês de 2006. Segundo Adolfo Alviço, diretor comercial da Bradesco Asset Management (Bram), a maior gestora de recursos da previdência aberta, a criação de perfis de investimento mais arrojados também é uma realidade nos planos de previdência aberta. “Os participantes dos planos abertos já começam a pedir opções de mais risco com mais retorno”, afirma ele. “Cada vez mais as pessoas estão se conscientizando que não dá para ficar esperando pela previdência oficial”.
De qualquer forma, com produtos mais ou menos sofisticados, o mercado de gestão de recursos tem crescido continuamente ao longo dos últimos 10 anos, pelo menos. Seguindo as pegadas do que já acontecia há mais tempo na Europa e Estados Unidos, o setor de fundo começou a deslanchar no Brasil a partir de 1994/95. Desde então, tem tido um desenvolvimento progressivo. “Acredito que há espaço para esse mercado dobrar de tamanho nos próximos 10 anos”, garante Giufrida.