MF - Setembro/2007 - Base de Junho/2007

Investimentos apimentados

Edição 184

Ambiente estável deve tornar mais complicada a busca por boas oportunidades de ganho e, conseqüentemente, levar os fundos de pensão a aumentar a exposição ao risco

A tomada de maior risco parece ser um caminho sem volta para os gestores de recursos. A tendência, aliás, é que esse movimento se intensifique daqui para frente. Se nos últimos dois anos as oportunidades de ganho com a bolsa e com títulos de renda fixa mais agressivos estavam relativamente fáceis de serem detectadas, num futuro próximo o cenário tende a ganhar mais estabilidade, com os papéis ostentando prêmios menores. A conquista do grau de investimento pelo país será emblemática dentro desse novo ambiente que se forma. Para preservar a rentabilidade das carteiras dos investidores, portanto, a exposição ao risco terá de ser, necessariamente, maior.
Um olhar panorâmico sobre o ranking Melhores Fundos de Institucionais, que apresentamos nesta edição de Investidor Institucional, já permite apontar para essa direção. Enquanto no grupo Renda Fixa Conservador a rentabilidade apurada nos últimos 12 meses varia entre 12% e 13%, no Renda Fixa Agressivo a valorização já alcança patamares de 15%. Nas diferentes categorias de ações, então, a maior parte dos retornos ultrapassa a casa dos 50%. “O juro real continuará caindo e quem ficar só no arroz com feijão corre o risco de não conseguir bater a meta atuarial”, afirma André Aloi, consultor da PPS Portfólio Performance. Aloi foi o responsável pela elaboração do ranking que, em conjunto com a equipe da PPS, analisou 159 fundos de investimento com histórico mínimo de 12 meses e voltados para clientes institucionais.
Ao mesmo tempo em que cresce o apetite a risco, aumentam também as exigências de controle. Por isso, o critério de classificação do ranking foi baseado na relação que os fundos apresentavam entre risco (medido pelo índice de Sharp, na renda fixa, e pelo de Modigliani, na renda variável) e retorno bruto. Dos 159 fundos analisados pela PPS, 56 foram classificados como excelentes, 52 como grau de aplicação e 51 abaixo do padrão. Os primeiros receberam no ranking a cor verde, os segundos a cor amarela e os terceiros a cor vermelha. Foram usados os mesmos critérios de classificação para os períodos de 12 meses, oito meses, três meses e três anos, todos encerrados em 31 de agosto de 2007.
Detalhe importante: os fundos que perderam em rentabilidade para o próprio benchmark num determinado período receberam a cor vermelha, automaticamente, independente da relação risco e retorno que tenha sido medida. “A idéia é premiar o melhor fundo, não aquele que perdeu menos”, explica Everaldo França, diretor da PPS. Foi o que aconteceu, por exemplo, em praticamente toda a categoria Renda Fixa Agressivo no período de três meses. Apenas um fundo (Itaú Performance RF FI) dentre 15 conseguiu superar o CDI (103,18%) e foi classificado como excelente, enquanto os outros 14 receberam o sinal vermelho. Foi um período de grande estresse nos mercados de títulos prefixados e atrelados a índices de preços. Boa parte do ganho obtido em todo o primeiro semestre foi devolvido nos meses de julho e agosto. Para se ter idéia, a NTN-B com vencimento em 2033 caiu 426% em relação ao CDI no mês de julho. Em agosto, o mesmo papel apresentou uma queda de 330% em relação ao CDI. Nos seis primeiros meses do ano, a NTN-B com vencimento em 2033 acumulava valorização de 454% do CDI. “Por conta disso, embora a tendência, no longo prazo, permaneça sendo de queda da taxa básica de juro brasileira, os fundos mais conservadores, como os DIs, apresentaram uma performance superior aos demais nos meses de julho e agosto ”, avalia Aloi, da PPS.

Nova categoria – Uma das principais novidades em relação ao último levantamento é a inclusão da categoria Multimercados com Renda Variável Outros, que compreende os fundos multimercados agressivos (que podem fazer operações de day trade, alavancagem, arbitragem e investimentos no exterior). Pela nova Resolução 3.456, as entidades fechadas de previdência complementar podem investir até 3% de seu patrimônio nesses fundos (ver quadro com critérios). Os multimercados enquadrados na antiga Resolução 3.121 estão classificados como Multimercados com Renda Variável Institucionais.
Outra categoria criada nesse ranking foi a de Renda Fixa Crédito, composta por seis fundos. Esse é mais um reflexo do movimento de busca por risco por parte dos investidores institucionais. As alocações em títulos privados têm se mostrado uma boa fonte de rentabilidade para as fundações (ver págs. 40 e 41). E as assets, como não poderia deixar de ser, acompanham a demanda de mercado criando fundos voltados especificamente para essas operações de renda fixa.
Nesse processo de migração que vem ocorrendo na indústria, os fundos de ações também merecem destaque. Passado o solavanco provocado pela crise do mercado imobiliário americano de hipotecas de alto risco, a bolsa brasileira voltou a atrair novamente a atenção dos investidores.
Walter Mendes, superintendente de renda variável do banco Itaú, projeta, por exemplo, que a Bovespa encerre o ano na casa dos 62 mil pontos e, em setembro de 2008, consiga alcançar entre 70 mil e 75 mil pontos.

Bruto de taxa – O ranking Melhores Fundos de Institucionais não leva em consideração a cobrança de taxa de administração nem de performance, diferentemente das avaliações de fundos feitas para o público mais amplo. O objetivo é conseguir medir com mais precisão o desempenho do gestor, e não o retorno líquido da aplicação. Acreditamos que investidores qualificados, como são nossos leitores, se interessam, primeiramente, pela capacidade de gestão da asset. As taxas de remuneração do gestor são analisadas à parte, até porque nas aplicações em fundos fechados e, em muitos casos, em fundos abertos, essa taxa é negociável, podendo variar de acordo com o poder de barganha do cliente.
Além disso, ao expurgar as taxas de administração dos retornos dos fundos, conseguimos uma comparação mais equânime entre os fundos e entre os gestores. O retorno é aquele que efetivamente cada fundo deu, o que elimina a possibilidade de um fundo aparecer melhor que o outro na foto só por ter uma taxa de administração mais baixa. O expurgo das taxas também torna interessante a análise dos fundos-mãe, pois mesmo que eles não recebam aplicações diretamente, isso ocorre por meio de seus FICs.
Ainda assim, vale reforçar: o fundo de pensão que decidir comprar cotas de outros fundos tendo como base este ranking deve tomar o cuidado de considerar, antes de escolher, as taxas que remuneram a gestão dos recursos. “À primeira vista, é preferível alocar em um fundo com rentabilidade anual de 12,5% do que o outro de 12%. Porém, se o fundo que rendeu mais cobra uma taxa de administração de 2,5%, a cota teria se valorizado, na verdade, 10%, ao passo que se o fundo que deu retorno bruto de 12% cobrasse uma taxa de administração de 1%, o rendimento líquido seria de 11%”, alerta França, da PPS.
Por fim, é importante ressaltar que a categorização dos fundos foi feita pela coerência que guardam com determinados benchmarks e não pelo registro que mantêm na Associação Nacional de Bancos de Investimento (Anbid), o qual muitas vezes leva a resultados distorcidos. Muitos fundos que se registram como multimercados na Anbid, para poderem fazer uso da liberdade que essa categoria oferece, na verdade acabam ancorados em títulos públicos. Assim, no nosso ranking, eles aparecem como renda fixa conservadora e não como multimercados. O mesmo raciocínio vale para os fundos Ibovespa que se descolam completamente desse índice.
Aqui, eles estão classificados como Ações Outros e não como Ibovespa.

Consolidado Tipo de Fundo – Quantos Fundos sinal verde: 56 Fundos sinal amarelo: 52 Fundos sinal vermelho: 51 Total de fundos analisados: 159

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