TA - Agosto/2008 - Base de Junho/2008

R$ 1,42 trilhão sob gestão | Com crescimento de apenas 4,99% no semestre, a indústria de gestão de recursos de terceiros sofreu o baque da instabilidade das bolsas e da crise internacional

Edição 194

O investidor brasileiro puxou o crescimento da indústria de gestão de recursos no primeiro semestre deste ano. Enquanto o volume de investimentos externos ficou praticamente estável em R$ 59,759 bilhões, na comparação com seis meses antes, o volume total sob gestão bateu a marca de R$ 1,425 trilhão, o que indica alta de quase 5% no semestre.
Tradicionalmente no topo do ranking, a BB DTVM coloca o fato de ter uma carteira de clientes focada no mercado interno e bastante pulverizada como um ponto positivo para a captação de recursos em meio à turbulência que abala o mercado financeiro internacional desde agosto do ano passado. “Uma vantagem é que nós não dependemos do investidor estrangeiro, que desfez as posições por conta da volatilidade”, afirma Carlos Massaru Takahashi, gerente executivo de distribuição de produtos da BB DTVM. A asset encerrou o primeiro semestre com R$ 245,883 bilhões, um crescimento de 11,7% em seis meses e de 17,73% em um ano.
Takahashi conta que a BB DTVM promoveu uma série de mudanças estruturais nos primeiros seis meses do ano, que contou inclusive com aumentos expressivos de equipe. “Fizemos um reforço na nossa área de análise, o que foi importante com o mercado mais volátil. Hoje temos 29 profissionais nessa área e, antes, eram apenas dez pessoas”, afirma o executivo. Foi promovida também uma especialização na área de gestão, com a divisão da equipe em três times: renda fixa, renda variável e multimercados. Na distribuição, o número de pessoas saltou de meia dúzia para 22 funcionários. “Dez deles são para institucionais. Também passamos a ter a equipe de distribuição para terceiros, que não tínhamos antes e, acredito, deve começar a render frutos já neste segundo semestre”, sinaliza Takahashi.
O executivo acredita em uma sensível melhora do mercado no que resta do ano, mas nada que faça uma grande diferença em relação aos primeiros seis meses de 2008. “O grande tema do primeiro semestre foi a inflação, em especial em relação às commodities. Mas essa preocupação se atenuou já em julho, com alguns índices vindo melhor do que o esperado. Talvez o cenário comece a ficar mais favorável e o mercado experimente um momento um pouco mais tranqüilo, mas não vai ser muito diferente do que foi o primeiro semestre. A volatilidade tende a continuar e acredito que ainda vá haver aumento de juros”, estima. Em relação à BB DTVM, a expectativa é bater os R$ 250 bilhões em patrimônio nos fundos sob gestão até o final do ano. “O Banco do Brasil está fazendo 200 anos e uma das diretrizes que o conglomerado traçou foi fechar o ano com R$ 250 bilhões de patrimônio de fundos sob gestão, o que aumenta o foco na rede e direciona todo um trabalho para isso.
Fechamos o primeiro semestre com R$ 245 bilhões sob gestão, então estamos no caminho certo”, afirma Takahashi.
Em segundo lugar no ranking, o Itaú encerrou o primeiro semestre de 2008 com R$ 206,014 bilhões sob gestão — uma expansão de 0,35% em seis meses e de 4,95% em doze. Walter Mendes, superintendente de renda variável do Itaú, também destaca a confiança do investidor brasileiro no mercado de ações como um ponto favorável do período. “O investidor estrangeiro fugiu do mercado, ainda mais depois da realização de lucros após a chegada do investment grade. Os investidores locais viram essa saída dos internacionais como uma oportunidade de compras na baixa. Eles não têm tido o ganho esperado, mas vêm mantendo a confiança de que o mercado vai se recuperar”, afirma Mendes. Ele destaca que o brasileiro vem sendo contagiado pelo bom ambiente econômico pelo qual o País passa atualmente, o que faz surgir oportunidades de ganho no longo prazo. O executivo sinaliza, no entanto, que a queda da Bolsa está sendo pior e mais longa do que o esperado. “Este segundo semestre é bastante incerto, apesar de um risco de queda ainda maior ser baixo a esta altura do campeonato”, estima. E completa: “o mercado está andando de lado e flutuando sobre uma plataforma estreita”.
Renda fixa – Se no ano passado foi verificada uma migração de recursos dos fundos DI e de curto prazo para os de renda fixa compostos por títulos pré-fixados, de ações e multimercados, no primeiro semestre deste ano a movimentação foi oposta. “Os fundos com taxas pré-fixadas perderam recursos e os DI, mais conservadores, começaram a ganhar”, indica Erico Rocha Capelo, superintendente de administração de fundos renda fixa do Itaú. Segundo ele, as estimativas no começo do ano eram de que a inflação poderia subir, mas não tanto quanto acelerou de fato.
Por isso, em janeiro e fevereiro, a sensação era de que talvez não fosse necessária uma elevação na taxa de juros. “Entre março e abril veio a certeza de que o Banco Central iria subir os juros”, diz Capelo. Na seqüência, vieram as duas altas de 0,50 ponto e a mais recente, de 0,75. “Com o alargamento do passo da subida, o mercado de taxas pré- fixadas ficou ainda mais nervoso”, explica.
A tendência é de que os fundos mais conservadores continuem captando bastante. Capelo afirma, no entanto, que existe a chance de a inflação ser controlada mais rapidamente, trazendo uma resposta mais rápida à ação do BC. “Com os juros mais altos e o menor crescimento da economia mundial, é possível que a inflação ceda e as taxas pré-fixadas apresentem uma melhora no último trimestre”, estima.
A boa notícia é que neste ambiente de Bolsa volátil e inflação em alta é possível aumentar a captação com uma boa estratégia nos multimercados. “Apresentamos boa rentabilidade porque estávamos mais negativos do que a média sobre a extensão da crise, os juros, a inflação e a Bolsa. Por outro lado, estávamos bastante otimistas com a moeda.
Assim, operamos com hedge baseado em escolhas bem feitas e conseguimos rentabilizar mesmo na crise. Antecipamos essa reviravolta no mercado”, aponta Marcelo Siniscalchi, superintendente de fundos de derivativos do Itaú. Ele afirma que um de seus fundos mais agressivos conseguiu render 200% do CDI no primeiro semestre deste ano e o Itaú conseguiu ter uma captação positiva numa indústria que vem sofrendo com os saques.
Em terceiro lugar no ranking, a Caixa Econômica Federal (CEF) também não se deixou abater pela turbulência. O banco chegou ao final do primeiro semestre com R$ 174,508 bilhões sob seu guarda-chuva, uma elevação de 24,12% em um ano e de 13,37% em seis meses. Bolívar Tarragó Moura Neto, vice-presidente de gestão de ativos de terceiros da CEF, afirma que o banco captou R$ 4 bilhões nos primeiros seis meses de 2008. “Não é que nós estamos imunes à crise, mas conseguimos crescer, porque além de a Caixa ser uma instituição sólida, o que ajuda a manter a captação, lançamos fundos novos: de capital protegido, fundo fidelidade, para regimes próprios, de ações, ISE e voltado para planos de saúde. Tudo isso gera nova captação”, conta.
Menos expostos ao risco – Para Alexandre Silvério, superintendente do Santander Asset Management, se deu melhor no primeiro semestre de 2008 quem estava menos exposto em renda variável. Esse é o caso da asset, que liderou o ranking das gestoras estrangeiras, com R$ 60,644 bilhões sob gestão ao final do primeiro semestre deste ano. “Com certeza, neste primeiro semestre, sofreu mais quem estava mais exposto em renda variável. Hoje, nós temos 7% do nosso patrimônio líquido em renda variável, enquanto a média do mercado vai de 11% a 12%. Por isso sofremos menos”, afirma o executivo.
Silvério afirma ainda que o único setor que registrou saídas no período foi o varejo, cujos saques não foram capazes de anular os ingressos de recursos nos segmentos de governo, institucionais, private e corporate. “Como temos uma estrutura bastante segmentada, a captação líquida positiva em corporate, private e institucionais superou os resgates feitos no varejo”, analisa o executivo. Os próximos passos da asset, de acordo com ele, são o lançamento de produtos e a abertura de novos mercados. “Hoje, a parcela de recursos estrangeiros com administração local é baixa, de cerca de US$ 170 milhões. Temos entrado em contato com distribuidores na Ásia para vender fundos geridos aqui. Esse mercado é uma válvula de crescimento e o investment grade ajuda e muito.
Estamos na parte final de estruturação de fundos para lançamento”, conta Silvério. Ele acrescenta, ainda, que é importante estar atento a novos produtos em renda variável. “O processo de integração com o ABN Amro Real deve fazer a gente avançar nessa área. São duas assets bastante complementares em termos de clientes e mandatos. E eles são fortes em renda variável”, sinaliza.
Fundos de pensão – Nos últimos anos, o movimento das fundações rumo à renda variável foi estimulado pelas ótimas oportunidades que esse tipo de investimento apresentou. No primeiro semestre deste ano, porém, o mercado foi tomado por grande turbulência, apresentando grande volatilidade e insegurança. Diante desse cenário, contudo, as fundações mantiveram suas posições em renda variável. “Algumas até aproveitaram as turbulência dos mercado para aumentar as participações”, comenta Takahashi, da BB DTVM. Ou seja, aproveitaram as quedas do mercado para irem às compras.
Segundo Takahashi, a elevação da taxa de juros proporcionou oportunidades em renda fixa, que as fundações aproveitaram adotando posições em crédito privado para diminuir a exposição à volatilidade e maximizar sua rentabilidade. A BB DTVM liderou o ranking de recursos de fundos de pensão sob gestão, encerrando o primeiro semestre deste ano com R$ 70,698 bilhões no segmento.
Para entender o ranking – As informações apresentadas neste 22º Ranking Top Asset representam a posição de cada gestor no dia 30 de junho de 2008 e foram prestadas diretamente pelos gestores à nossa área de pesquisa. O ranking engloba unicamente os recursos discricionários administrados pela asset, ou seja, aqueles sobre os quais ela possui mandato do cliente para movimentar.
– No quadro Raio X do Mercado””, para determinar o crescimento do volume total sob gestão, assim como em cada categoria específica, expurgamos os efeitos da entrada de novas assets de uma edição para outra, de tal forma que o percentual de crescimento em 6 e em 12 meses possa refletir mais fielmente o mercado.
– Controle nacional ou estrangeiro: consideramos nacional o controle claramente definido em mãos de um grupo nacional e não apenas o controle em nome de uma empresa registrada no Brasil

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