Regulatório

ETFs conquistam espaço | Fundações começam a investir mais em fundos de índices para fazer uma gestão passiva de suas carteiras de renda variável; explicitação na Resolução 3.792 ajudou

Edição 221

 

A facilidade de ter em um só ativo a réplica de um índice da BM&FBovespa e a possibilidade de ganhar com o aluguel de papéis e cotas desse ativo têm atraído mais fundações para os investimentos em ETFs – Exchanged Traded Funds, os fundos de índice. Para se ter uma ideia, os fundos de pensão respondiam por 2,5% do total sob gestão da BlackRock em iShares no final do ano passado, que estava em R$ 390 milhões. Atualmente, essa fatia subiu para 30% dos R$ 750 milhões sob os cuidados da gestora.
“O segmento de fundos de pensão tem sido o que mais cresce dentro dos nichos de clientes que nós cobrimos”, afirma Diego Mora, chefe de relacionamento com o segmento institucional da BlackRock.
Em sua edição de maio deste ano, Investidor Institucional mostrou que a Valia já estava usando ETFs na parte passiva de sua gestão de renda variável. Além dela, fundações como a Fibra (leia mais na página 32) e a Prece já fazem suas aplicações em fundos de índices, e a Funcef pode aprovar em breve a aplicação neste tipo de ativo.
Na opinião de Diego Mora, o fato de a legislação ter explicitado que os fundos de pensão podem investir em ETFs abriu uma grande porta para a entrada desses investidores no segmento. Segundo ele, a Resolução número 3.456 do Conselho Monetário Nacional (CMN) não deixava claro que essa aplicação poderia ser feita pelas entidades fechadas de previdência complementar. “Na dúvida, elas preferiam não investir”, lembra o executivo. “Na 3.792 [resolução de setembro do ano passado que substituiu a CMN 3.456], ficou explícito que os fundos de pensão podem alocar em ETFs, estão estabelecidos os limites para isso e se tornou claro que os ETFs são olhados como ativo final. Ao se resolver essa questão de regulação, a discussão passou a ser sobre como o instrumento pode ajudar as fundações, e os debates começaram a fluir bem”, conta Mora.
O executivo constata que a maior parte dos R$ 200 milhões aplicados pelas fundações em iShares está alocada no Bova11, que replica o Ibovespa. Além de estar relacionado ao principal índice do segmento Bovespa, este é o ETF com maior volume em Bolsa, e o fato de ter um patrimônio maior que os demais iShares permite que as fundações aloquem mais facilmente nele. “O interessante é que nas últimas semanas uma fundação começou a investir no Smal11 e tem três outras fundações avaliando esse instrumento. Hoje, o Bova11 é realmente o que concentra a grande parte dos recursos dos fundos de pensão. Mais para frente, ele ainda será o de maior participação, mas outros ETFs também vão começar a ganhar um peso maior em relação ao todo”, estima Mora. O Smal11 (iShares BM&FBOVESPA Small Cap Fundo de Índice) busca obter retornos de investimentos que correspondam à performance do índice BM&FBOVESPA Small Cap antes de taxas e despesas.
Uma fundação que pode provar essa tese é a Prece Previdência. Milton Leobons, diretor de investimentos da entidade, conta que o fundo de pensão tem cerca 10% de sua carteira variável aplicado no Bova11. Os investimentos da Prece em renda variável somam perto de R$ 200 milhões, diante de um patrimônio total de R$ 1,4 bilhão. Toda a gestão de ações da entidade é feita internamente, por meio de carteira própria, com exceção de um fundo que “está rendendo muito bem e, por isso, tem sido mantido”.
A novidade é que a Prece está estudando o investimento no Mobi11 – que segue o índice BM&FBovespa Imobiliário. “No início do ano que vem devemos tomar uma decisão sobre isso. Só precisamos ainda aprimorar a avaliação sobre o mercado imobiliário”, detalha Leobons. Ele acrescenta que o Mob11 é prioridade, mas a entidade também está de olho para incluir o Brax11 (ligado ao Índice Brasil – IBrX 100) em sua carteira.

No prelo – Em estudo também está a entrada da Funcef em iShares.
Mauricio Marcelini, gerente de investimentos da entidade, conta que a fundação está em etapa final de aprovação da elegibilidade dos ETFs para a sua carteira. “É uma questão que está em discussão no Conselho Deliberativo, a última instância para aprovação. Até o fim de novembro isso deve estar concluído”, adianta o gerente.
Marcelini explica que a Funcef está vendo o ETF como uma alternativa de veículo para a gestão da estratégia passiva de “renda variável-mercado”.
Do patrimônio total da fundação, que é de R$ 40 bilhões, 35% são alocados em renda variável. Dentro desse segmento, 40% (ou R$ 5 bilhões) está em “renda variável-mercado”, que é a renda variável líquida.
Dos R$ 5 bilhões, R$ 2,5 bilhões são geridos internamente seguindo uma estratégia passiva. E é no meio deste bolo que entrariam os ETFs.
“Usaríamos o Bova11 para complementar a nossa gestão passiva indexada ao Ibovespa”, resume Marcelini. Ele esclarece que o máximo que a Funcef poderia alocar no Bova11 atualmente seria de R$ 125 milhões, uma vez que cada entidade não pode ter mais de 25% do patrimônio do ativo. “O patrimônio do Bova11 está em R$ 500 milhões hoje. Por conta dos limites da legislação, eu só poderia colocar até R$ 125 milhões nesse veículo. Mas ainda não temos definido quanto aplicaremos”, pondera.
Um outro estudo dentro da Funcef, mas nesse caso ainda incipiente, se refere aos investimentos em outros ETFs. “Podemos passar a olhar para o Smal11 ou novos ETFs que venham a surgir no mercado brasileiro também para outras estratégias. Nós já temos uma estratégia de small caps na carteira, e o ETF viria a complementá-la. Dessa forma, nós faríamos uma alocação de carteira própria apenas para extrair alfa do segmento”, explica.

Taxas – Marcelini revela que a Funcef tem falado “para o próprio gestor do ETF” que ainda considera a taxa de administração elevada para um fundo passivo. “Esse produto ficaria mais atrativo se as operações de empréstimo das ações da carteira do ETF conseguissem zerar o seu custo de administração”, argumenta.
Diego Mora, da BlackRock, garante que no final das contas a aplicação em ETF vale sim a pena. Ele detalha que, no caso do Bova11, a taxa de administração é de 0,54% ao ano; o aluguel interno das ações que compõem o ativo geram uma receita que volta 100% para o fundo; e essa receita, hoje, está girando em torno dos 0,35% ao ano. “Ou seja: a taxa de administração líquida de receita de aluguel fica em 0,20% ao ano”, indica. “Se além disso o cliente fizer aluguel das cotas do ETF, ele ganhará mais ainda. Tudo depende de qual porcentagem da posição em Bova11 ele vai alugar. A taxa de aluguel neste caso está em 3% ao ano. Se o cliente alugar só 10% da sua posição, já dá 0,30% ao ano. Pronto, ele matou o custo. Em termos de custo/benefício, é bem vantajoso”, garante.
Além do aluguel, outro benefício destacado pelo executivo para o investimento em ETF é a simplificação da gestão. “A principal vantagem do ETF é simplificar a vida do gestor de recursos de uma fundação. Com uma operação só ele está se expondo a um setor, está fazendo uma diversificação imediata. E a execução é muito simples. Ao invés de deter em sua carteira mais de 60 papéis, tendo que fazer um rebalanceamento a cada quatro meses, ele compra um ativo só. Não tem que ficar cuidando de mais de 60 ações diferentes”, diz Mora.
Esta simplificação não se aplica muito à Funcef, que tem uma estrutura interna capaz de fazer operações com ações dentro de casa. Para a fundação, o ETF surgiu como solução para um risco de desenquadramento.
Segundo Marcelini, a entidade já tem posições relevantes em papéis de algumas empresas que compõem o Ibovespa. Como a CMN 3.792 estabelece limites para aplicação em um mesmo emissor, a entidade poderia ficar impedida de comprar, por conta própria, mais ações de determinadas companhias. “O atrativo para a fundação é que o ETF surge como solução para um problema nosso de restrição à alocação em determinados ativos”, reforça.
Mora, da BlackRock, completa que os ETFs aparecem como peça fundamental em um movimento de separação das estratégias de gestão das fundações entre ativa e passiva. “Dividir a carteira em uma parte para gestão ativa e uma parte para gestão passiva traz benefícios em termos de risco e de custos. E várias fundações estão enxergando os ETFs como ferramenta para implementar essa estratégia de separação entre alfa e beta”, aponta.

Sem muitas vantagens para as fundações Apesar de considerar os ETFs um produto bastante interessante sob diversos pontos de vista, François Racicot, líder da área de investimentos da Mercer, acredita que as vantagens apresentadas pelo ativo não são tão atraentes para os fundos de pensão.
“O primeiro ponto é que, segundo a nossa análise, esse é um produto que fica um pouco caro para o investidor institucional. Muitas vezes, fundos com gestão ativa têm uma taxa de administração inferior à dos ETFs”, argumenta Racicot. Ele completa que o ETF é “super interessante” para quem não tem volume suficiente para comprar várias ações e replicar, por conta própria, a carteira de um índice. “Mas esse não é o caso das fundações. Normalmente os fundos de pensão têm um volume de recursos muito grande que lhes permite, se eles quiserem, replicar a carteira”, aponta.
Racicot afirma que o ETF também é interessante em termos de liquidez – se um investidor quiser liquidar suas posições, ele consegue fazer isso rapidamente, sem muito custo de transação e sem ter que desmontar toda a sua carteira. “Mas, normalmente, liquidez não é uma preocupação tão grande dos fundos de pensão, cujo horizonte de investimento é de longo prazo. Por isso, também não é uma vantagem que tenha tanto apelo para uma fundação”, observa.
Em relação às fundações que optam por separar seus investimentos em renda variável entre as estratégias ativa e passiva, Racicot comenta que para fazer a parte passiva as entidades têm três alternativas. “Uma delas, sem dúvida nenhuma, é comprar um ETF – e é a forma mais fácil, eu diria.
Talvez para uma fundação menor, que não tenha tanto conhecimento, possa ser uma alternativa interessante. A segunda opção seria pagar um gestor para fazer fundos passivos, que não buscam bater o benchmark mas sim replicá-lo, e que geralmente têm taxas mais baixas que um ETF.
Essa é mais barata. E a terceira opção é a fundação montar a carteira por conta própria – mas isso é restrito a algumas entidades, porque é preciso ter know-how e expertise em gestão dentro de casa. E isso, em geral, só as de maior porte têm.”

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