TA - Março/2011 - Base de Dezembro/2010

Produtos de renda fixa em alta em 2010 | Com o fraco desempenho da Bolsa e a inflação em alta, os gestores aproveitaram oportunidades no segmento

Edição 224

 

Seguramente, 2010 não será lembrado como um bom ano para a renda variável. Conversando com os gestores, uma das expressões mais repetida é a de que “a Bolsa andou de lado”, apresentando uma alta volatilidade que atrapalhou o desempenho dos fundos de ações e multimercados. Em compensação, a renda fixa foi o segmento que ofereceu as melhores oportunidades de ganho na gestão, sobretudo com relação aos títulos públicos. No que se refere a alternativas de diversificação para os investidores, também apareceram como boas oportunidades os imóveis, por meio de fundos imobiliários, e direitos creditórios, boa parte atrelada a imóveis ou outros bens, como veículos.
Os títulos privados em geral também mostraram crescimento consistente e apontam uma tendência que deve se ampliar nos próximos anos.
Com o destaque da renda fixa em 2010, algumas assets ligadas a grandes instituições financeiras aproveitaram para aumentar sua fatia de mercado na indústria de gestão de recursos de terceiros. A liderança absoluta continua nas mãos da BB DTVM, que aproveitou sua característica de uma gestão mais conservadora, de baixo risco, para aumentar a vantagem em relação aos principais concorrentes. Entre as assets ligadas a bancos privados, o destaque ficou com a Bram – Bradesco Asset Management, que também utilizou o bom desempenho da renda fixa para crescer no mercado de fundos. Os dois gigantes aumentaram a participação no segmento de fundos imobiliários, como forma de aproveitar as oportunidades de ganhos com o crescimento da economia. Ambas fizeram grandes captações com fundos imobiliários em 2010.
Depois de um ano excepcional para a Bolsa em 2009, no ano passado o mercado acionário foi prejudicado por uma volatilidade relevante, com uma magra rentabilidade. “As ações tiveram um desempenho aquém do desejado. A BB DTVM adotou uma estratégia mais defensiva, mantendo a exposição em ativos de empresas relacionadas ao consumo e boas pagadoras de dividendos”, explica Carlos José da Costa André, diretor executivo de gestão de fundos da BB DTVM. Enquanto a Bolsa caminhou quase todo o ano sem uma tendência definida, na renda fixa, o gestor explica que o ano foi muito bom, com destaque para os títulos públicos atrelados a índices de inflação. A gestora do BB é a primeira do ranking em volume de títulos públicos, com R$ 284,19 bilhões, seguida pela Caixa, que tem R$ 201,66 bilhões nessa classe de ativos. O diretor da BB DTVM ressalta o bom desempenho dos títulos públicos do tipo NTN-B que fizeram parte de carteiras indexadas ao IMA. “Foi um ano bom para os institucionais que tinham maior concentração de NTN-Bs, que ficaram protegidos da alta da inflação. Quem tinha maior exposição em renda variável, teve um ano um pouco mais complicado”, explica Carlos André.
A exposição em títulos privados não foi uma tônica para a BB DTVM em 2010, ainda que a aquisição de CDBs, DPGEs e debêntures tenha entrado como uma possibilidade adicional de melhorar a rentabilidade de alguns fundos e carteiras. “Houve um fluxo importante de recursos para a renda fixa, fundos de curto prazo e DI que beneficiou nosso crescimento”, sintetiza Carlos Massaru Takahashi. Ele explica que foi feito um trabalho forte com fundos exclusivos, com características de fundo de caixa , com benchmark próximo ao DI e alta liquidez. “Vínhamos enfrentando muita concorrência com CDBs e LCAs, mas o DI voltou a predominar no final do ano”, diz o executivo que comanda a maior gestora de recursos do País.
Denise Pavarina, diretora superintendente da Bram, concorda com a análise de que os títulos públicos indexados à inflação se destacaram em 2010. “No ano passado, vimos com destaque os títulos públicos do tipo IMA-B em termos de rentabilidade, o que impulsionou o desempenho na categoria. Os fundos cresceram em captação e foi preciso aumentar o volume desses títulos”, explica. A Bram aumentou sua exposição em títulos públicos em 17,36% em 2010, registrando uma das maiores taxas de crescimento entre as cinco do topo do ranking. Ficou atrás apenas do Itaú, que cresceu 23,03% em patrimônio investido em papéis do governo.
No segmento da renda variável, a Bram registrou aumento da captação de alguns fundos exclusivos de clientes, que deram margem para maior alocação em ações. Além disso, “houve também entrada de recursos de investidores estrangeiros, que nos contrataram para fazer a gestão.
Verificamos esse crescimento expressivo em recursos estrangeiros tanto renda fixa quanto na variável”, diz Denise Pavarina.

Títulos privados – Ainda em relação aos fundos exclusivos, a Bram também aumentou a exposição de alguns mandatos a títulos privados, além da aquisição destes papéis para os demais fundos abertos. “Tivemos que aumentar o volume de títulos privados para melhorar a rentabilidade, mantendo um bom nível de risco. Esses crescimentos fizeram parte do processo normal de gestão, não houve uma decisão específica de aumentar a exposição a esses títulos”, explica a superintendente da Bram.
Ela complementa que houve um movimento natural de expansão de volume, o que leva a operar mais neste mercado.
Outro gestor que teve crescimento expressivo no segmento de títulos privados foi a Caixa. “A exposição aos títulos privados tem aumentado com os fundos exclusivos voltados aos clientes corporate. Muitas empresas demonstram preferência por papéis privados”, diz Aline Oliveira Lima, superintendente nacional de desenvolvimento de produtos para terceiros da Caixa. Outro tipo de cliente que vem demonstrando maior apetite pelos papéis privados são os regimes próprios de previdência (RPPS). Para eles, a Caixa lançou uma família de fundos composta basicamente por DPGEs atrelados ao índice de inflação IPCA.
O crescimento da Caixa no segmento de títulos privados foi visível. O gestor deu um salto de 75,51% na exposição a papéis privados em 2010, ficando atrás apenas da BB DTVM, que cresceu 78,56% durante o ano, considerando os cinco gigantes. Já entre os dez maiores, houve destaque para o BTG Pactual, que aumentou sua exposição a títulos privados em nada menos que 88,94% nos 12 meses de 2010.
O aumento da utilização dos papéis privados é uma tendência que veio para ficar, segundo Eduardo Castro, superintendente executivo de gestão de recursos do Santander. “Para buscar as metas dos investidores institucionais e clientes de renda fixa tradicionais, será necessário uma maior diversificação de risco de crédito e risco de mercado. O que estamos fazendo é aceitar essa tendência natural, em que a participação de riscos de crédito nas carteiras tende a ser maior nos próximos anos”, diz. Ele ressalva, porém, que em 2011 está ocorrendo um hiato nesta tendência, com a retomada do ciclo de alta dos juros – mas como o cenário de médio e longo prazo é de queda nas taxas, os papéis privados devem voltar com força em breve.
O superintendente do Santander comenta que, no crédito privado, antes as opções estavam concentradas em títulos de grandes companhias de telecomunicações ou energia elétrica, que apresentavam bom nível de risco. Mais recentemente, o mercado de assets começou a trabalhar com novas opções de diversificação de portfólio, com papéis de empresas de consumo, concessão de rodovias e construção civil, entre outros setores.
“Maior quantidade de empresas está vindo a mercado, o que permite uma melhor diversificação do risco setorial e dos prazos. Essa é uma tendência que deve continuar, com a evolução setorial das debêntures”, diz Castro.
Ele ressalta ainda a tendência de maior utilização das Letras Financeiras (LFs), que possuem um prazo mínimo mais longo, de dois anos, se comparadas aos CDBs. “As letras não irão substituir por completo os CDBs, mas devem compor cada vez com mais frequência a carteira de crédito bancário. Uma estratégia será a de aliar CDBs com prazos mais curtos a LFs”, indica Castro. O Santander registrou em 2010 um crescimento de 44,41% em sua carteira de títulos privados, terminando o ano na quarta posição neste segmento, com um volume de R$ 30,85 bilhões.

Imóveis e direitos creditórios – Outras classes de ativos que tiveram um bom ano foram os imóveis e os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs). Com o crescimento da economia, o setor imobiliário passou a apresentar boas oportunidades de ganho que os gestores de recursos não quiseram deixar de lado, apesar de ser uma área com pequena atuação das assets. Um dos destaques ficou com a Votorantim Wealth Management, que lançou dois fundos imobiliários compostos por CRIs no ano passado – que captaram em conjunto cerca de R$ 560 milhões. Com isso, a asset ficou em quarto lugar no ranking de direitos creditórios, atrás apenas de Bram, BCSul Verax e Itaú, que ocuparam as três primeiras posições nessa ordem. A Votorantim cresceu 29,65% em sua carteira de direitos creditórios em 2010, que além dos CRIs, também contou com os recebíveis de veículos de seus Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs).
Outro destaque da Votorantim foi a operação em conjunto com o Banco do Brasil no lançamento de um fundo imobiliário em dezembro do ano passado. Neste caso, o FII detém um imóvel diretamente, que é uma torre comercial construída junto ao Shopping Cidade Jardim, na capital paulista.
O fundo captou R$ 300 milhões em apenas duas semanas, com participação predominante de investidores pessoa física. “Os fundos imobiliários são uma excelente opção para os clientes private por oferecer vantagem de isenção do Imposto de Renda”, explica Reinaldo Lacerda, superintendente de produtos da Votorantim Wealth Management. Ele acredita que nos próximos anos será acentuada a tendência de lançamentos de produtos de investimentos relacionados ao setor imobiliário. “Estamos estudando o lançamento de novos fundos imobiliários e de FIPs [Fundos de Investimento em Participações] atrelados ao setor, que está em plena expansão”, diz Lacerda.

Perspectivas 2011 – Com a Bolsa sem demonstrar tendências muito definidas, o começo de 2011 repete o clima do que aconteceu durante o ano anterior. “O mercado acionário continua sem uma tendência clara, o que vai diferenciar nesse segmento é uma boa seleção de ações, uma boa filtragem”, diz Carlos André, da BB DTVM. Ele ressalta que o fator chave que continua chamando a atenção é a leitura do cenário inflacionário, que influencia nas perspectivas da taxa de juros. “É um cenário bastante desafiador para os gestores, e o mais importante será a previsão sobre a trajetória da inflação”, diz Carlos André.
A superintendente da Caixa, Aline Lima, concorda com a interpretação do mercado de ações. “A Bolsa ainda não apresentou consistência em 2011.
E a pressão dos juros não deve favorecer o desempenho das ações no País”, estima. Ela explica que uma das estratégias é continuar procurando ações de empresas com bom histórico de pagamento de dividendos. Outra opção é o lançamento de fundos com capital protegido (multimercado), que utilizam índice de bolsa. “Os fundos de capital protegido são uma alternativa para o varejo”, aponta.
“As incertezas persistem no mercado e prejudicam a captação dos fundos de ações”, explica Denise Pavarina, da Bram. Ela prevê que 2011 será novamente um ano difícil para a Bolsa, mas que pode melhorar no segundo semestre. Já na renda fixa, as perspectivas continuam boas. “O mercado continua líquido e a perspectiva é boa. Existe uma competição com o CDB, com o aumento da captação dos bancos devido as medidas como a elevação de compulsório. Isso afeta diretamente os fundos de renda fixa”, explica a superintendente. Se não houver grande reviravolta, o primeiro semestre de 2011 promete repetir o que foi o mercado em 2010.

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