TA - Agosto/2011 - Base de Junho/2011

Fundações e RPPS no alvo dos gestores | Investidor estrangeiro, por sua vez, impõe desafio à captação por conta da crise e do aumento no IOF

Edição 229

Mais de R$ 300 bilhões em ativos das entidades fechadas de previdência complementar estão sob os cuidados dos gestores terceirizados de recursos. O volume registrado nesta edição do Top Asset apresenta um incremento de 4% em seis meses e de 14,08% em um ano.

Líder no segmento, a BB DTVM gere mais de R$ 87 bilhões em recursos de fundos de pensão. “Do lado comercial, temos chegado mais a esse segmento de clientes por conta da estratégia focada e especializada na venda de fundos exclusivos. Do ponto de vista da gestão, passamos a promover uma alocação mais forte em crédito privado nos portfólios dos institucionais. Essa era uma demanda destes clientes em função das necessidades atuariais e cumprimento dos ALMs”, afirma Carlos Massaru Takahashi, presidente da gestora.
Em segundo lugar na categoria, o Itaú viu seu patrimônio no segmento cair 1,30% em seis meses, para R$ 53,78 bilhões, apesar de ter crescido 7,39% em um ano. Paulo Corchaki, diretor de gestão de recursos da Itaú Asset Management, acredita que a concorrência com os CDBs pode ter afetado o desempenho da gestora neste nicho. “No primeiro semestre, houve uma competição muito forte com o CDB. Os bancos estavam captando com muita força, pagando taxas altas por conta de medidas relacionadas ao compulsório. Mas essa tendência está se revertendo. O dinheiro que estava migrando dos fundos de investimento para o CDB deve passar a vir mais para os fundos novamente”, estima.
Entre as dez primeiras colocadas no ranking, o maior crescimento no semestre foi da Bram – Bradesco Asset Management. A alta foi de 23,62% em seis meses (49,66% em um ano), para R$ 36,72 bilhões. “O primeiro semestre foi bem positivo. A maioria dos fundos teve uma performance boa, assim como a captação. E ganhamos algumas carteiras novas”, constata Denise Pavarina, superintendente da asset.
O Santander também conquistou novos clientes no segmento de fundos de pensão. É o que diz Eduardo Castro, superintendente executivo de investimentos da Santander Asset Management. “Ganhamos novos mandatos dos fundos de pensão em fundos IMA-B. Também fizemos alguns novos fundos exclusivos para fundações, que exigem este tipo de veículo. Estamos aliando a boa performance de nossos produtos com serviços de educação financeira para os participantes das entidades”, conta o executivo. O Santander ficou em quarto lugar no ranking de fundos de pensão, com crescimento de 17,56% em seis meses e de 30,05% em um ano.
Em nono lugar, o BNP Paribas avançou 27,25% na categoria de fundos de pensão em 12 meses. Luiz Sorge, diretor do BNP Paribas Asset Management, afirma que a gestora tem conseguido um destaque em termos de performance, principalmente com as estratégias adotadas em mandatos balanceados (asset alocation). “No médio prazo, muitas vezes é difícil agregar valor só na renda fixa ou só na renda variável isoladamente. Assim, aproveitamos uma visão de mercado diferenciada que temos em termos globais, adquirida por meio do intercâmbio com nossos pares no exterior. No primeiro semestre, enquanto o mercado avaliava que era o momento de entrar mais em bolsa porque o Ibovespa estava baixo, nós achávamos que o mercado continuava superavaliado.
Tomamos uma posição mais conservadora e decidimos ficar abaixo do ponto médio na renda variável. Foi o que gerou maior proteção das carteiras quando veio essa última queda mais acentuada”, exemplifica.

RPPS – Um segmento que vem cada vez mais saltando aos olhos dos gestores de recursos é o de regimes próprios de previdência social. No fim de junho, estavam nas mãos das assets quase R$ 42 bilhões em recursos oriundos desse nicho de clientes, o que indica uma alta de 16,99% em seis meses e de 35,81% em um ano. Apesar do aumento na concorrência, BB DTVM e Caixa Econômica Federal vêm se alternando na liderança do ranking na categoria. Isso porque os institutos municipais e estaduais ainda têm o hábito de concentrar seus investimentos junto a instituições de controle estatal (ou misto).
Nesta edição, o topo do pódio ficou com a BB DTVM. No ranking anterior, referente a dezembro de 2010, a instituição também esteve em primeiro lugar. Mas no levantamento sobre o primeiro semestre do ano passado, quem levou a melhor foi a Caixa. “Há uma disputa grande com a Caixa.
Já chegamos a perder o primeiro lugar, e era uma questão de honra voltarmos a essa posição”, afirma Carlos Massaru Takahashi, presidente da gestora. Ele conta que o trabalho da BB DTVM rumo à liderança começou a partir das mudanças na regulamentação dos investimentos dos RPPS – inicialmente com a chegada da Resolução número 3.790 do Conselho Monetário Nacional (CMN), e mais recentemente com a CMN 3.922. “Procuramos fazer a readequação do nosso portfólio de imediato.
Decidimos focar em famílias de fundos atreladas às novas instruções dos RPPS e, com isso, fomos muito favorecidos”, acredita o executivo. Ele acrescenta que, paralelamente a essa readequação de portfólio, a BB DTVM se preocupou em levar alternativas de liquidez aos clientes.
“Em uma fase de reestruturação da carteira para atender à legislação, era preciso que os RPPS tomassem posições líquidas enquanto se estudava a melhor estratégia de alocação. Criamos um fundo atrelado ao CDI com liquidez que se exigia e o patamar de performance que o RPPS desejava.
Tivemos um fluxo grande por conta disso”, completa Takahashi.
Em segundo lugar, a Caixa credita o bom desempenho à diversificação dos produtos oferecidos aos RPPS. “O principal lançamento foi de uma família de fundos de renda fixa crédito privado. Foram 14 fundos desse tipo, que trabalham com DPGEs. Já no mês de julho, tivemos o lançamento de um fundo de capital protegido [Caixa Brasil Capital Protegido Multimercado], que captou mais R$ 128 milhões com os RPPS em apenas um dia. São opções que oferecem rentabilidade diferenciada, acima do DI e dos títulos públicos tradicionais. Com as recentes resoluções 3.790 e 3.922, os institutos começaram a diversificar mais suas carteiras. Eles estão buscando novas alternativas”, atesta Marcelo de Jesus Define Perossi, superintendente nacional de gestão de ativos de terceiros da Caixa Econômica Federal.
O executivo afirma que a diferença entre a Caixa e a BB DTVM não é grande no segmento. Dados do Top Asset apontam que menos de R$ 1,5 bilhão separam o primeiro e o segundo colocados. “Continuamos na disputa. Estamos muito ativos nesse segmento”, avisa Perossi.
Um gestor passou a fazer parte recentemente dessa guerra entre gigantes. Trata-se do Banco Cooperativo Sicredi, que teve o maior crescimento do ranking em seis meses, avançando 195,33%. Eduardo Godoi Correa, gerente de produtos de investimento da instituição, conta que o banco trabalha neste ramo de clientes desde 2005, mas passou a dar uma atenção maior a ele nos últimos três anos. “Não contávamos, anteriormente, com uma equipe personalizada que pudesse estar próxima aos gestores dos RPPS. Agora, temos três pessoas dedicadas exclusivamente ao segmento, fora todo o conjunto de profissionais da área econômica, analistas de risco, analistas setoriais e gestores das carteiras dos fundos. São mais de 30 pessoas envolvidas”, aponta.
Com esse relacionamento mais próximo e dedicado, ficou mais fácil entender qual era a demanda dos institutos. A partir daí, o Banco Cooperativo Sicredi lançou dois produtos: o FI Institucional RF IMA-B LP, no fim de 2009, que é atrelado a inflação; e o FI Institucional RF IRF-M LP, no início de 2011, que é ligado a juros. Na distribuição, conta a favor da instituição a capilaridade de sua rede de agências e postos de atendimento. “Nossa abrangência é superior a 880 municípios, em que a média é de aproximadamente 50 mil habitantes. Geralmente, a conta da prefeitura está nas nossas unidades e os pagamentos são feitos por meio dos nossos pontos de distribuição. Isso facilita o contato com o cliente.
Fora que eles se sentem seguros em investir no banco”, acredita Correa.
Ele adianta que a instituição pretende desenvolver novos produtos para o segmento.

Estrangeiros – No ranking de investidores estrangeiros, a liderança absoluta é da Bram. Com quase R$ 40 bilhões sob gestão na categoria, a asset do Bradesco saltou mais de 1000% tanto em seis quanto em 12 meses. O desempenho é fruto do trabalho de internacionalização da asset.
“Já vínhamos fazendo um trabalho há alguns anos, que foi intensificado a partir do ano passado, de buscar investidores internacionais que querem aplicar no Brasil. Isso pode acontecer por meio das carteiras administradas, em que grandes fundos de pensão ou endowments nos contratam para gerir a parcela que cabe ao Brasil em seus portfólios. Mas também distribuímos fundos nossos lá fora – no Japão, no Chile e na Europa”, enumera Denise Pavarina.
Ela avisa que a intenção é dar continuidade ao processo e crescer cada vez mais, de maneira consistente. “Estamos nos preparando e reforçando a equipe. Há previsão de contratar mais gente lá fora. Só estamos andando com cuidado porque o mercado está muito complexo, e não adianta ficarmos cheios de vendedores se o investidor ainda está com preocupações tão básicas, como sobre qual será o rumo do mercado amanhã. A tensão é grande e a atenção fica dissipada por conta dessas questões urgentes que têm que ser resolvidas. Mas a internacionalização da Bram, com cuidado e consistentemente, é uma definição estratégica do banco”, reforça a executiva.
Mesmo com números tão expressivos, Denise diz que o primeiro semestre foi difícil. Segundo ela, o aumento no valor do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) atrapalhou muito – mais ainda do que questões relacionadas às incertezas do mercado. “Dois fatores atrapalham muito: imposto sobre o investimento e câmbio – nesse caso porque as pessoas têm receio de mandar dinheiro para cá e sofrer com a desvalorização do dólar aqui. São dois movimentos que deixam os investidores apreensivos”, indica.
Denise ressalva que o “pior humor” do estrangeiro em relação ao IOF já passou, mas ainda existe. “A rejeição já não é tão exacerbada. E os investidores ainda olham para o Brasil como uma boa alternativa, especialmente aqueles aplicadores com visão de longo prazo. Com o câmbio, no entanto, a preocupação continua”, aponta a executiva.
Victor Arakaki, gerente de distribuição de fundos offshore da HSBC Global Asset Management, elenca outros fatores que contribuíram negativamente para o fluxo de investimentos externos. “Os primeiros seis meses de 2011 foram muito desafiadores. Logo em março, tivemos o terremoto no Japão e todo seu impacto negativo sobre a cadeia produtiva local e global.
Além disso, pesaram sobre o mercado financeiro as crescentes incertezas no âmbito internacional e o aumento das expectativas de inflação no Brasil”, lembra. Arakaki argumenta que, com todos esses ingredientes reunidos, os investidores estrangeiros se posicionaram com maior cautela e aversão ao risco.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *