TA - Agosto/2011 - Base de Junho/2011

Gestão ativa na renda fixa para escapar da crise | Turbulência internacional leva gestores a buscar ganhos com papéis como Letras Financeiras e debêntures

Edição 229

O acirramento da crise na Europa e Estados Unidos e a retração da Bolsa brasileira levaram os gestores de recursos a adotar uma postura mais conservadora no primeiro semestre do ano. A alta volatilidade que já vinha prejudicando as estratégias de renda variável no segundo semestre de 2010 continuou atormentando, com mais intensidade, as assets e investidores, que foram obrigados a buscar outras saídas. Por isso, em geral, houve uma tendência de buscar uma gestão mais ativa na renda fixa, procurando oportunidades na alternância entre títulos públicos e papéis privados. Paralelamente, foi o momento para entrada ou avanço na captação dos fundos estruturados, sejam FIDCs (direitos creditórios), Fiis (Imobiliários) e FIPs (participações), com aumento desses ativos nos fundos.

“Elevamos a exposição em títulos privados, com papéis de baixo risco de crédito em geral. O spread cresceu bastante e abriu oportunidades de ganhos, com taxas mais atrativas, tanto indexados ao CDI quanto IPCA”, diz Marcelo de Jesus Define Perossi, superintendente nacional de gestão de ativos de terceiros da Caixa Econômica Federal. Ele explica que diversos fundos adquiriram Letras Financeiras, DPGEs e debêntures de grandes empresas. Além disso, houve ampliação do volume de recursos em direitos creditórios e imóveis em geral, por conta do avanço na captação dos FIDCs e dos Fiis da Caixa. “Registramos crescimento do patrimônio líquido de fundos estruturados devido ao aumento da procura por fundos de pensão e institutos de previdência”, afirma o gerente nacional da Caixa.
Para a BB DTVM, líder geral do Top Asset, a performance da renda fixa foi puxada pelos títulos públicos, que se beneficiaram com o aumento da taxa de juros, e também pelo desempenho de papéis de crédito privado. “Aproveitamos boas oportunidades com DPGEs e Letras Financeiras, dois produtos bastante importantes na renda fixa, assim como algumas operações de crédito privado corporativo, a exemplo de algumas debêntures mais atrativas”, aponta Carlos Massaru Takahashi, presidente da asset do Banco do Brasil.
Paulo Corchaki, diretor de gestão de recursos da Itaú Asset Management, concorda que houve forte demanda por LFs. “Está havendo mais emissões de letras, que foram o grande destaque dos últimos meses”, indica. Ele acredita que a demanda por títulos privados é de longo prazo , assim como vai haver cada vez mais procura por securitização.
O mercado de emissão de dívida de empresas, com as debêntures por exemplo, também ficou aquecido no primeiro semestre do ano. “Foi um período de intensa emissão de debêntures, geralmente pela instrução CVM 476, cujas ofertas são mais rápidas”, explica Rodrigo de Freitas Dias, sócio da Araújo Fontes responsável pela área de gestão de recursos.
E se por um lado o interesse é por dívida, por outro os institucionais estão cada vez mais se voltando para as participações em empresas fechadas. “Para os institucionais, as aplicações em private equity servem para diversificar o portfólio, permitindo maiores ganhos no médio e longo prazo. Esses investidores têm condições de esperar pelo amadurecimento e desinvestimento das empresas”, observa. Dias acredita que o momento de queda das bolsas abre oportunidades para entrada em PEs. “A queda do valor das ações em bolsa gera desvalorização dos múltiplos de empresas fechadas. A relação entre risco e prêmio está atraente”.
A asset aproveitou o momento para aumentar o número de empresas de capital fechado no portfólio de seus fundos, subindo de três para sete no semestre passado. O gestor realiza trabalho de melhoria na governança de empresas de médio porte, com características familiares, no sentido de prepará-las para emissão de debêntures ou abertura de capital. Ele acredita que é um momento adequado para que as fundações que ainda não possuem participação em PE possam abrir uma carteira e, gradualmente, incluir diversas aplicações com vencimentos com prazos distintos.

Ações Brasil – A maioria das principais assets registrou redução dos ativos de renda variável em seus fundos, boa parte devido à forte desvalorização dos papéis. São poucas as exceções – apenas aquelas focadas em renda variável ou que adotam estratégias descorrelacionadas aos principais índices do mercado.
“A queda foi um efeito do próprio mercado, sendo provocada por uma perda de valor dos papéis. Não houve movimentação efetiva de saída.
Porém, a entrada foi pequena, só de clientes estrangeiros”, diz Paulo Corchaki, do Itaú. Os investidores internacionais, com destaque para os asiáticos, continuaram aplicando no mercado brasileiro. “O Brasil tem uma dinâmica razoavelmente blindada a essas situações externas. Primeiro, a economia brasileira depende basicamente do consumo interno, da demanda doméstica”, aponta o diretor do Itaú. Ele prevê que haverá melhora da Bolsa, mas será bastante lenta e gradual, começando também pela volta do investidor estrangeiro que saiu do mercado. “O volume deve voltar aos poucos, mas será suficiente para fazer a Bolsa subir novamente”, estima Corchaki.
Carlos Massaru Takahashi, presidente da BB DTVM, ressalta que os cotistas em geral têm adotado um comportamento diferente se comparado a outros momentos de crise. “Aquele pânico que vivenciamos em outras crises já não é mais tendência, mesmo na pessoa física. O banco tem procurado fazer um trabalho de esclarecimento para que os clientes não saiam em momentos inadequados”, aponta. Ele informa que houve “alguma diminuição” no volume dos PLs de bolsa, de forma marginal. “A queda foi bem menor do que a gente imaginava”, atesta.
Entre os maiores gestores, apenas BNY Mellon ARX e CS Hedging-Griffo (CSHG) ampliaram o volume na categoria de ações e recibos BR. A CSHG também teve destaque na categoria de derivativos, ficando na primeira posição, seguida pelo BNP Paribas, em segundo lugar. A CS Hedging-Griffo tem dois fundos com estratégia long and short que não possuem viés de mercado, ou seja, estão descorrelacionados do índice. Os fundos apresentam desempenho que independe da Bolsa devido ao uso básico de derivativos em operações denominadas call ou put spreads. “Utilizamos os derivativos para maximizar os retornos ou minimizar perdas”, diz Demian Pons, gestor de fundos da CS Hedging- Griffo. O gestor explica que, em momentos de estresse do mercado como o que vem ocorrendo nos últimos meses, a utilização dos derivativos é intensificada.
Os institucionais não estão habituados a investir em fundos com derivativos, porém, os gestores que oferecem esse tipo de produto acreditam que a procura pode aumentar devido às dificuldades enfrentadas nos mercados mundiais nos últimos meses. “É uma alternativa atraente para a diversificação da carteira em virtude da necessidade de desconcentrar dos segmentos mais tradicionais de renda fixa e variável”, indica Demian Pons.

Ações exterior – Seguindo a tendência de redução do volume em renda variável em geral, as ações e recibos no exterior também encolheram em termos de tamanho das carteiras. Os efeitos da crise foram sentidos pelos principais gestores que investem em ações no exterior, tais como o BNP Paribas e o HSBC. Apesar da desvalorização dos papéis, os gestores buscaram melhores oportunidades em países da América Latina.
“Nos fundos de ações de América Latina, pudemos capturar muitas oportunidades na seleção de ações em outros países como Chile, México e Panamá”, diz Victor Arakaki, gerente de distribuição de fundos off-shore da HSBC Global Asset Management. Ele explica que o Chile é o país mais desenvolvido na região. “Apesar de historicamente apresentar um valuation caro, aproveitamos algumas oportunidades no setor mineração”, descreve.
O BNP Paribas também manteve posição de destaque na categoria de ações no exterior, com a segunda colocação. “Pelas nossas características de player global, continuamos com forte atuação em renda variável, não apenas no mercado local, como também na América Latina e com os ADRs em Nova York”, diz Luiz Carlos Sorge, diretor do BNP Paribas Asset Management. Ele explica ainda que o BNP tem a característica de manter exposição em renda variável bem acima da média do mercado, que é de 10%. Do total de ativos do gestor (cerca de R$ 31 bilhões), aproximadamente 25%, ou R$ 8 bilhões, estão alocados em ações tanto do mercado local quanto externo.

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