Fundos de Pensão

De olho no segundo semestre | Profissionais de fundos de pensão, regimes próprios de previdência, gestores de recursos e consultorias participam de rodada de seminários promovida pela Investidor Institucional

São Paulo: cerca de 100 pessoas participaram do primeiro dia de debatesBrasília: público do Centro-OesteRio de Janeiro: segundo evento da série de semináriosEdição 237

 

Cerca  de 100 pessoas entre representantes de fundos de pensão, regimes próprios de previdência, gestores de recursos e consultorias estiveram reunidos em São Paulo (SP), no dia 15 de maio, participando do Fórum Investidor Institucional – Cenários e Perspectivas de Investimento para o 2º Semestre. O seminário promovido pela revista e que tem como tema o posicionamento das carteiras e as expectativas em relação aos portfólios dos institucionais passaria pelo Rio de Janeiro (RJ) e por Florianópolis (SC) nos dias 16 e 17 de maio e por Brasília (DF) e Recife (PE) em 22 e 23 de maio.

Em São Paulo, os trabalhos foram iniciados com uma palestra de Edivar Vilela de Queiroz Filho, diretor executivo da Luz Engenharia Financeira. Ele alertou que não há viabilidade em se manter planos estruturados na modalidade de Benefício Definido (BD). “É melhor vocês acabaram com os planos BD antes que eles acabem com vocês”, disse ele, dirigindo-se às entidades de previdência.

O executivo afirmou que há diversas novas alternativas de investimento bastante técnicas e interessantes no mercado, mas dificilmente elas se encaixariam em um plano de Benefício Definido. “Mesmo os planos que se prepararam e conseguiram baixar suas metas atuariais para inflação mais 3%, 4% ou 4,75% terão de enfrentar o risco do reinvestimento, que é grande. Todas as opções de investimento que surgem, como por exemplo as aplicações no exterior, só fazem sentido para planos de Contribuição Definida (CD)”, sublinhou Queiroz.

Sem saída – Na opinião do executivo, ter exposição a Bolsa em planos de BD se assemelha a estar em um cassino. “É como pegar um dinheiro que eu não tenho e arriscar apostando que vou ganhar. E a história em países como os Estados Unidos e a Holanda mostra que é melhor não fazer essa aposta. A Bolsa é uma excelente alternativa, mas para planos CD”, reforçou. Queiroz citou um caso recente do fundo de pensão da Ford, nos EUA. De acordo com matéria veiculada recentemente pela publicação norte-americana Pensions&Investments, os dirigentes da fundação patrocinada pela montadora indicaram que a alocação de seus planos mudaria, ao longo dos próximos cinco anos, para 80% em renda fixa e 20% em ações voltadas para crescimento e investimentos alternativos. Em 31 de dezembro de 2011, a alocação dos planos de pensão da Ford estava dividida da seguinte forma: 52,3% em renda fixa, 31,4% em ações, 7% em hedge funds, 4,9% em private equity, 3,5% em caixa e 0,9% em investimentos imobiliários.

Ainda sobre as alternativas de investimento para as entidades de previdência, Edivar Vilela de Queiroz Filho falou a respeito do segmento de crédito privado. “É uma opção bastante interessante, mas não há volume de emissões nem mercado secundário no Brasil que sejam suficientes”, observou. A visão do executivo sobre os fundos de private equity segue a mesma linha. “Levantou-se muito dinheiro para esses fundos no Brasil, mas será que há empresas suficientes para receber o investimento? Sabemos de fundos de private equity que não conseguiram alocar todo o dinheiro levantado durante o período estabelecido para o investimento porque foi difícil encontrar empresas. É claro que existem bons ativos, mas na minha opinião o capital levantado é desproporcional ao número de oportunidades”, considerou. O segmento de venture capital é visto por Queiroz como algo interessante, mas também inadequado para fundos BD. “Quem é que vai se aventurar a colocar dinheiro em algo que ainda não está maduro e tem chance de não dar certo?”, questionou.

Por fim, o executivo afirmou que começa a fazer sentido para o investidor institucional olhar para as aplicações fora do País. “O investimento no exterior está passando a ser levado em conta, mas eu jamais incluiria esse segmento em um plano BD. Seria arriscar o benefício do participante e a saúde financeira da patrocinadora”, argumentou. Ele reforçou que planos BD podem levar as empresas ao colapso caso seja necessário arcar com déficits, possibilidade que fica cada vez mais provável com a queda do juro real.

Renda variável – Dando sequência aos debates, Oliver Leyland, gestor da Mirae Asset Global Investments Brasil, falou sobre as oportunidades de investimento em ações. “Não vemos uma enxurrada de recursos para a renda variável no curto prazo, mas com o passar do tempo acreditamos que as posições em ações devem ficar mais atrativas”, disse ele. O gestor lembrou que o percentual das carteiras dos fundos de pensão ao segmento de renda variável ainda é muito baixo na comparação com outros países, o que mostra um grande espaço para incremento. De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) referentes a dezembro de 2011, a carteira consolidada das fundações tinha uma exposição de 30% a renda variável. Vale lembrar que este número leva em conta a carteira da Previ, que tem uma alocação bastante significativa em ações, o que puxa a média para cima.

Além do aumento do investimento em renda variável no Brasil, Leyland disse que também espera um crescimento no número de empresas listadas na Bolsa. “O Brasil é a sexta maior economia do mundo e tem 373 empresas listadas. A Índia, por exemplo, tem 6.752, enquanto a China conta com 3.838”, comparou. O gestor comentou que o mercado de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) foi reaberto no Brasil recentemente, depois de meses sem emissões, com as operações do BTG Pactual, Locamérica e Unicasa.

Leyland apontou que empresas geradoras e distribuidoras de caixa serão cada vez mais valorizadas por investidores nacionais e estrangeiros. Entre os setores com perspectivas mais otimistas, ele citou aqueles defensivos contra a inflação e os ligados à economia doméstica. “A queda dos juros deve levar a um aumento da inflação mesmo diante de um cenário econômico mais fraco no Brasil e no mundo. Por isso, estamos olhando para os segmentos de shopping centers, concessões e imóveis comerciais, que são mais defensivos contra a elevação de preços”, indicou. Ele afirmou ainda que acredita em um crescimento do poder de compra e da massa salarial do brasileiro em 2013, o que leva ao interesse por empresas dos setores de imóveis, eletrodomésticos, vestuário e calçados. “São atividades com correlação mais alta com o aumento do poder de compra. Aumentamos alocação nesses setores para nos beneficiar desse movimento de crescimento de renda”, reforçou o gestor da Mirae.

Outros segmentos que merecem atenção na opinião do gestor são os de infraestrutura, saúde e educação. “Há poucos players na Bolsa para o investidor acessar o setor de infraestrutura, mas ainda assim é um nicho que trará bons resultados”, apontou. “E saúde e educação também se beneficiam da maior renda disponível”, completou Leyland.

O gestor se disse otimista com a Bolsa no médio e no longo prazo, ainda que no curto ainda seja necessário conviver com a volatilidade dos mercados mundiais. “As oscilações por conta da Europa ainda tendem a persistir, mas mantemos uma visão positiva para a Bolsa”, disse ele.

Escolhas – Alexandre Rezende, sócio da Oceana Investimentos, mostrou como a seleção de ações pode fazer a diferença nos resultados das aplicações em renda variável. Ele explicou quais são os passos seguidos por uma abordagem fundamentalista como a que é feita pela asset. “Buscamos distorções entre o preço que o mercado está pagando pelas ações e o seu valor intrínseco, que seria o nível de retorno que esperamos dado o nível de risco que o negócio de determinada empresa apresenta”, informou.

Rezende destacou que alguns fatores além do negócio da companhia em si acabam afetando a precificação das ações. Um deles, por exemplo, é o chamado “efeito manada”, quando o mercado todo se movimenta para um lado só geralmente guiado por motivos psicológicos. Há ainda as questões compulsórias de compra ou venda de ações, cujas causas podem ser upgrade ou downgrade de ratings das empresas, mudança na composição de índices de ações e aplicações ou resgates em fundos com determinados perfis. O sócio da Oceana citou ainda os “novos fatos”, como um resultado muito ruim em um trimestre. “Nesse caso, precisamos ver se é um efeito conjuntural ou estrutural. Para isso, fazemos um grande trabalho de campo, em que temos contato com executivos, clientes, fornecedores, ex-sócios e ex-funcionários das companhias. Dependendo do caso, também entramos em contato com o órgão regulador do setor em que a empresa atua e contratamos serviços de consultoria e de escritórios de advocacia”, enumerou.

O executivo afirmou ainda que, em se tratando de ações, o horizonte do investimento é um ponto-chave. “O comportamento da Bolsa em um ano pode apresentar muitas distorções. Se o prazo para o resgate do dinheiro for curto, nem adianta investir em ações”, disse ele. Fazendo uma comparação entre o Ibovespa e o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), ele mostrou que, em um período de 10 anos, o Ibovespa sai ganhando.

Rezende ressalvou, porém, que além do prazo é preciso estar atento ao fato de que a qualidade das empresas faz diferença nos ganhos. Para provar isso, Rezende montou um “portfólio X” com cinco ações de companhias que trazem bons retornos para os acionistas e apresentam vantagens competitivas. Nesse caso, o portfólio X ganhou tanto do Ibovespa quanto do CDI em rentabilidade. “Em 10 anos, o portfólio X trouxe um retorno nominal de 30 vezes o valor investido”, apontou.

Diversificação – Ainda no tema do investimento em renda variável, Eduardo Loverro, diretor comecial da área de investidores institucionais do BNP Paribas, falou sobre as possibilidades de diversificação oferecidas pela aplicação em ações no exterior. Ele lembrou que desde 2009 as entidades fechadas de previdência complementar passaram a contar com um limite maior para investir em fundos voltados para o exterior, de 10% dos recursos dos planos, com a chegada da Resolução número 3.792 do Conselho Monetário Nacional (CMN). “Mesmo assim, praticamente ninguém faz uso desse limite ainda”, constatou o executivo.

Para ele, uma vez que o Brasil ainda conta com taxas de juros relativamente altas na comparação com o resto do mundo, não faz sentido aplicar em renda fixa no exterior. “Investir em renda variável fora do País é uma maneira de acessar novas fontes de geração de retorno que o mercado local não oferece. Além disso, a diversificação é um fator chave para a preservação do patrimônio e o momento atual, com o real forte apesar da queda de curto prazo, traz boas oportunidades para os investidores brasileiros”, elencou o executivo, acrescentando que outro benefício trazido pelo investimento em renda variável no exterior é a baixa correlação com a carteira dos fundos de pensão.

“Muitos dirigentes de fundos de pensão se preocupam em como explicar para os conselhos e participantes se o investimento no exterior passar por uma rentabilidade. Mas a verdade é que isso também pode acontecer com aplicações no mercado brasileiro, inclusive em NTN-Bs marcadas a mercado caso haja fechamento de taxas. O importante é ver se o investimento tem fundamento e faz sentido do ponto de vista da diversificação”, reforçou EduardoLoverro.

O Fórum Investidor Institucional tem patrocínio de BB DTVM, BNP Paribas Asset Management, GAP Prudential, JGP, Mirae Asset, Riviera Investimentos, Oceana Investimentos e TrendBank.

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