Resultado comprometido | Com a forte volatilidade que marcou tant...
Edição 202
Se os primeiros oito meses do ano passado já não andavam às mil maravilhas na indústria de fundos de investimento, de setembro para frente a situação só piorou. A partir da quebra do Lehman Brothers, os mercados globais foram fortemente abalados – e aqui no Brasil não foi muito diferente. Prova disso é que, no ranking de fundos de institucionais elaborado pelo Investidor Institucional a partir de dados compilados e fornecidos pela PPS Portfólio Performance, o número de fundos considerados Excelentes chegou a 78 no período de 12 meses encerrado em 31 de dezembro de 2008. No levantamento anterior, referente aos 12 meses findos em 30 de junho do mesmo ano, 94 fundos receberam sinal verde.
Além disso, o número de fundos verdes dos gestores que estão registrados no topo da lista também encolheu. A Bram, apesar de ter ultrapassado o Itaú e ter levado a melhor nesta edição do ranking, viu sua quantidade de fundos Excelentes cair de dez para nove, ao passo que os fundos passaram passaram de cinco para sete. O Itaú, outrora na liderança e agora em segundo lugar, teve quatro fundos verdes e dois vermelhos a menos – nesse caso, foram os originados que aumentaram de tamanho, saindo de dois no levantamento anterior para seis na edição atual.
“O ano passado foi bem atípico para a indústria de fundos, e não só no caso dos institucionais. Foi um ano que começou com otimismo, mas percebemos os primeiros sinais da crise do subprime, com desdobramentos até hoje. Do segundo semestre de 2008 para cá, houve uma reviravolta bastante importante, que afetou todos os mercados e trouxe muita volatilidade e alguns resultados negativos tanto para uma renda fixa quanto para uma variável ”, lembra Adolfo Alviço, superintendente comercial da Bram. Ele diz que a Bram sempre teve uma grande preocupação com o segmento institucional pelo fato de que os recursos irão fazer frente a benefícios futuros. Diante disso, segundo Alviço, a política de gestão do ativo em dificuldade como o analisado é procurar com que a volatilidade seja menos sentida pelo cliente.
Luis Roberto Zaratin Soares, da Bram, completa que 2008 não foi um ano para fazer alavancagens e ganhar dinheiro, mas sim um período de proteção. “Não foi um ano de muita loucura para tentar ganhar dinheiro, e sim de fazer uma gestão ativa para não perder.”
Ações – A renda variável teve grande peso sobre o desempenho dos fundos de pensão – que, na média, fecharam 2008 no vermelho. A opinião é de André Aloi, consultor da PPS. “Grande parte das entidades fechadas de previdência complementar não atingiu um meta atuarial no ano passado e o sistema como um todo fechou com rentabilidade média negativa. E é possível que haja uma deterioração do cenário de renda variável na comparação entre o ranking anterior e este ”, diz ele. Alói afirma que os fundos de renda variável não foram admitidos em terreno negativo. “Os fundos de dividendos, pela própria característica deles, tiveram uma performance um pouco melhor no período”, comenta. Para o consultor, os meses de setembro e outubro foram responsáveis pela deterioração dos investimentos em bolsa e prejudicaram todo o segundo semestre em renda variável. “Com uma Bolsa assim, não teve muita surpresa. Ninguém se destacou, exceto os fundos de dividendos ”, reforça.
Para Walter Mendes, superintendente de renda variável do Itaú, 2008 foi um ano em que a estratégia setorial foi extremamente importante, com um primeiro semestre muito diferente do segundo, exigindo rapidez nos ajustes. “Para nós, que somos uma asset grande, com fundos relativamente grandes, não foi nada fácil fazer ajustes num período curto.
Gostaríamos de tê-los feito mais rápido e os fundos estariam ainda melhor”, diz Mendes, referindo-se ao fato de as commodities estarem em alta no primeiro semestre e, depois, terem sofrido fortes quedas a partir de julho. “As commodities subiram muito no primeiro semestre, mas, no segundo, tivemos uma virada muito brusca. E quem ficou mais defensivo, apostou mais em energia elétrica, comunicação e mercado interno e fez isso mais rápido, se saiu melhor. Em novembro e dezembro, porém, o mercado deu outra virada e as commodities voltaram a subir, claro que não na mesma intensidade, mas isso surpreendeu porque não havia nenhum sinal de recuperação econômica”, relembra Mendes, reforçando que foi um desafio muito grande fazer todas as mudanças de estratégia ao longo do ano passado.
Renda fixa – Não foram só os preços das commodities que passaram por altos e baixos em um ano tão volátil como o passado. Aloi, da PPS, destaca que os últimos dois meses de 2008 foram de uma recuperação interessante nos investimentos em renda fixa, graças ao fechamento dos prêmios de títulos prefixados e dos indexados a inflação. “Em novembro e dezembro os ativos devolveram, em parte, tudo aquilo que o mercado sofreu no resto do ano”. No caso dos fundos de crédito, o mercado teve impacto da precificação dos ativos. Segundo Aloi, a marcação a mercado afetou as carteiras e esse foi um dos fatores que desencadearam em fundos com rentabilidade abaixo do CDI no período analisado. Everaldo França, da PPS, lembra ainda que a análise dos fundos não leva em conta a qualidade e a quantidade de risco de crédito nas carteiras. “Claro que quem paga muito apresenta uma rentabilidade maior, mas é importante lembrar que os papéis também apresentam riscos diferentes”, ressalta.
Paulo Corchaki, diretor de investimentos do Itaú, avalia que os dois semestres do ano passado também foram muito diferentes um do outro na renda fixa, assim como na variável. Ele explica que, por conta da crise, a necessidade de os bancos captarem via CDBs aumentou e, com isso, as taxas destes papéis subiram bastante. “Seja no institucional ou em qualquer outro segmento, houve uma migração de fundos de baixo risco , como DI e renda fixa, para os CDBs”, aponta, Corchaki acrescenta que a elevação das taxas dos CDBs levou a uma reprecificação para cima “em todo o mundo de crédito”, incluindo debêntures e outros papéis. “Por um lado isso gerou migração para o CDB que estava pagando mais, e por outro atrapalhou os fundos a partir do momento em que eles tiveram que fazer uma marcação a mercado com uma reprecificação para cima.”
Multimercados – Ao contrário do que aconteceu na renda fixa e principalmente na renda variável, nos fundos multimercados houve grandes discrepâncias de resultado no ano passado. Aloi cita que, nos doze meses encerrados em 31 de dezembro de 2008, em um extremo um multimercado teve rentabilidade positiva de 116% do CDI, enquanto, no outro, chegou a haver retorno de -113% do CDI. “Dá para ver que teve quem acertou e quem errou. Se todo mundo seguisse o mesmo comportamento e permanecesse comprado em ações, os resultados teriam sido muito mais próximos”, analisa Aloi.
Vale lembrar que os multimercados foram responsáveis por boa parte dos saques sofridos pela indústria de fundos de investimento no ano passado.
Corchaki, do Itaú, comenta que o mundo de multimercados sofreu não pura e simplesmente pela performance em si, mas também pelo fato de o cliente não entender o porquê do desempenho obtido. “A performance foi ruim, mas não a ponto de justificar tanto resgate. O problema é que o cliente estava perdendo sem entender direito o motivo disso”, diz ele, ressalvando que o cliente institucional, por entender melhor o risco de um multimercado, “foi mais fiel” e não saiu tanto dos fundos.
Corchaki sinaliza, ainda, que nem todos os multimercados tiveram desempenho ruim em 2008. Ele afirma que quem conseguiu aproveitar o movimento em renda variável, “para um lado no primeiro semestre e para o outro no segundo”, teve uma performance excepcional, pois houve volatilidade suficiente para os fundos performarem no ano passado. “Foi o caso do Itaú Hegde [Multimercado FI], ele acertou os movimentos”, indica.
Assim como no caso dos multimercados foi possível separar o joio do trigo, há quem diga que um período tão complicado como o segundo semestre do ano passado tenha servido para que o cliente tivesse uma idéia de quem é quem no mercado de gestão de recursos. Para Everaldo França, um dos momentos mais críticos da crise valeu como análise do comportamento dos gestores. “Outubro foi um mês interessante para ver quem conseguiu defender as carteiras. É claro que, para avaliar a performance do gestor, é preciso olhar se ele tem resultados consistentes no longo prazo. Mas também é bom observar como ele se comporta no estresse.”
Para entender o Ranking – Os fundos foram analisados e classificados pela PPS Portfólio de acordo com sua rentabilidade e volatilidade num período de 12 meses, findos em 31 de dezembro de 2008. Fundos com histórico inferior a 12 meses não foram analisados. A classificação leva em conta a categoria e o perfil de risco do fundo.
– O estudo analisa apenas os fundos abertos, voltados para investidores institucionais, adequados ou aderentes à Resolução 3456, inclusive aqueles que se enquadram no limite de 3% como Long and Short e Multimercados Outros Ativos. Foram analisados todos os fundos enviados pelos gestores, com exceção daqueles onde a PPS detectou evidente desacordo com a referida resolução ou com o público de institucionais.
– Enquadramos diversas classificações de multimercados da Anbid (sem alavancagem, com alavancagem, etc) na categoria Multimercado – Outros Ativos, pois uma separação mais detalhada estenderia demasiadamente o ranking.
– Os melhores fundos pelo critério de risco/retorno recebem o sinal verde, indicativo de Excelência em gestão. Os fundos que recebem o sinal amarelo são considerados Adequados para aplicação, enquanto os fundos que recebem o sinal vermelho são considerados Abaixo do Padrão de aplicação.
– Nos indicadores de performance os ganhos ou perdas são medidos em percentuais sobre o benchmark, com exceção dos fundos de renda variável cujos ganhos ou perdas em relação ao benchmark são medidos em pontos percentuais.
– No indicador RTA (Risco Total Anualizado), a volatilidade no período é medida em percentual.
– O retorno acumulado mensurado nas tabelas está líquido de taxa de administração. Com isso, mede-se efetivamente a performance do gestor, sem a contaminação das taxas.
– As cotas, líquidas de taxa de administração, foram retiradas da base de dados da Anbid.
– As classificações no segmento de renda fixa foram feitas avaliando não só Sharpe como também o retorno acumulado, sobretudo nos períodos de 12 meses, 6 meses e 3 meses. Como o mercado tem sido marcado por forte turbulência nos negócios, se utilizássemos a premissa de Sharpe negativo = Abaixo do Padrão, a maioria dos fundos receberia esta classificação. Portanto, resultados que circundaram o CDI (até 97% deste indicador) foram considerados como Adequados.
– As classificações no segmento de renda variável foram feitas utilizando o índice de Modigliani, uma medida de retorno ajustado ao risco.
– Alguns fundos possuem um asterisco ao lado do nome. A explicação para cada asterisco está publicada no final da tabela.
– O investidor desenvolvedor do regulamento do fundo para a ciência dos riscos inerentes ao investimento. Rentabilidade não é garantia de bons resultados no futuro.
– Se seu ativo possui um fundo voltado para clientes institucionais e ele não se encontra entre os fundos encaminhados, solicitamos que encaminhe os dados do mesmo (Nome do fundo; Nome do gestor; Nome do administrador; Nome do custodiante; Código Anbid; Categoria Anbid ; Benchmark do fundo; Taxa de administração; Taxa de desempenho, se houver), para publicação no nosso próximo ranking, em setembro de 2009.