Mudanças pela frente | Com compra do HSBC, a Bradesco Asset Manag...

Edição 273

 

A Bradesco Asset Management (Bram) registrou crescimento de 20,19% entre fundos de pensão em 12 meses. Apesar do bom resultado, a asset do Bradesco manteve o quinto lugar entre as gestoras com mais recursos de fundos de pensão. Contudo, com a compra do HSBC, a Bram deve ultrapassar Santander e Caixa e aparecer na disputa pelo segundo lugar com a asset do Itaú, quando ambas deverão estar acima dos R$ 60 bilhões em recursos de fundações, atrás somente da BB DTVM que lidera com R$ 111,3 bilhões.
O crescimento da Bram no ano só não foi maior porque as entidades adotaram uma postura mais conservadora em um ambiente volátil de juros elevados e com a bolsa mais uma vez de lado. “Muitos dos grandes fundos de pensão com gestão própria internalizaram parte dos recursos”, afirma Fabio Masetti, superintendente comercial da Bradesco Asset Management (Bram). As entidades aproveitaram a abertura dos juros para comprar os ativos para sua carteira própria e marcá-los na curva, comenta o executivo.
Embora o processo de redução da carteira de renda variável local dos fundos já venha de algum tempo, o movimento ainda foi observado nos últimos meses na Bram, principalmente após o recrudescimento do ambiente macroeconômico. “No início do ano tínhamos um determinado cenário com as expectativas de mudança na Fazenda. Com o decorrer do tempo essa situação mudou um pouco”, nota Masetti.
“Desde o início de 2015 tem se usado a expressão de um ano desafiador, e continua assim. O segundo e terceiro trimestre estão se provando ainda mais difíceis do ponto de vista de visibilidade na alocação”, afirma Reinaldo Le Grazie, diretor superintendente da Bram. Ele explica que nesses momentos é natural uma redução da renda variável.
Um caminho alternativo que continua sendo trilhado por algumas entidades, conta Le Grazie, é o investimento no exterior. “O retorno da alocação internacional tem sido muito bom, tanto pela valorização das moedas fortes quanto pelo desempenho das bolsas”, diz o executivo.
Após um primeiro movimento rumo à bolsa americana, um segundo passo dos investidores mais voltado à Europa passou a ser observado. A migração não foi maior, acredita Le Grazie, pela questão grega que ganhou espaço recentemente. O fundo de Europa da Bram rendeu quase 30% no primeiro semestre, em linha com o desempenho apresentado pelos fundos de BDRs e ‘Australasia’ (inclui os asiáticos emergentes, a Austrália, e exclui o Japão) da gestora do Bradesco.
Entre os novos planos da Bram, aparece o lançamento de um fundo específico lastreado na bolsa nipônica. “Depois dessas valorizações, sempre questionam se o movimento deve prosseguir, só que já falam isso faz tempo, e a rentabilidade continua alta”, fala Le Grazie, que acredita que a migração para o exterior tende a se intensifcar com a Instrução 555 da CVM, que vai trazer um fluxo maior de investidores para a categoria.

Santander – A asset do Santander, por sua vez, manteve-se em quarto lugar na categoria de ativos provenientes das entidades fechadas, com R$ 45,2 bilhões, após registrar incremento de 20,3% nos doze meses até junho, o maior no período entre as cinco assets que mais concentram os recursos dos fundos de pensão.
O avanço do Santander ocorreu principalmente com carteiras mais conservadoras. “Ganhamos majoritariamente novos mandatos de ALM de renda fixa, e alguns multimercados, com uma abrangência um pouco maior de ativos, mas concentrados em renda fixa”, afirma Eduardo Castro, superintendente executivo de fundos da Santander Asset Management. Os multimercados foram compostos com mandatos de CDI, IPCA e IMA.
Uma outra iniciativa que tem ganhado corpo na gestora na família dos multimercados diante da boa aceitação das entidades foram os fundos de capital protegido com exposição a ativos globais. “Nesse segmento em especial captamos com clientes novos. São fundos de investimento no exterior feitos localmente, com derivativos”, explica Castro. Uma das estratégias dos fundos tem sido explorar a apreciação do dólar frente a uma cesta de moedas de emergentes, e também de desenvolvidos, principalmente aquelas com economias mais voltadas às commodities. Diante do descompasso entre as políticas do Fed e do BCE, a aposta do dólar contra o euro também rendeu bom retorno.
A deterioração do ambiente após a revisão da meta fiscal, que fez os prêmios das NTN-Bs voltarem a superar os 6,5%, aumentou ainda mais a procura por títulos indexados à inflação, conta o superintendete do Santander. Entre os RPPS, o crescimento da asset foi de aproximadamente 10,9% em seis meses.

HSBC – A asset do HSBC continuou na mesma sexta colocação do ranking anterior entre os fundos de pensão, após crescer 22,8% nos últimos doze meses encerrados em junho. A evolução aconteceu onde se concentra a expertise da casa, e em linha com todo o mercado, na renda fixa, especialmente inflação e crédito privado.
Alcindo Canto, CEO da HSBC Global Asset Management, destaca que o avanço do segundo semestre teve importante contribuição de sete entidades que aumentaram as alocações que já tinham com a gestora, e de quatro novos clientes conquistados no período, sendo um deles a Previnorte, da Eletrobras, e outras três entidades de companhias multinacionais.
“No segundo semestre do ano passado acertamos o cenário de evolução da inflação e da Selic e conseguimos importantes clientes novos. O primeiro semestre de 2015 foi neutro, mais focado na manutenção dos investidores”.
O movimento recente mais fraco, segundo Canto, reflete a redução de alocação de algumas fundações para diluir a concentração na asset. Após alguns semestres, revela o CEO, a gestora do banco registrou resgate líquido no segmento institucional em junho, de aproximadamente R$ 600 milhões. “Isso não está relacionado com a performance, mas com o momento do banco”.
O executivo admite que a relativa demora para se definir o comprador da unidade brasileira do HSBC atrapalhou um pouco o desenvolvimento dos negócios, principalmente na área comercial. A queda de quase 10% no segmento corporate no primeiro semestre, na avaliação de Canto, também foi reflexo do tempo que levou o processo de venda.
Uma queda significativa na asset do HSBC foi com os investidores estrangeiros, que reduziram em 35,8% sua exposição, em doze meses até junho, para R$ 5,4 bilhões. Entre as dez maiores no segmento, a redução só não foi maior do que a registrada pela BB DTVM, de 48,5%. Nesse caso, o CEO da asset do HSBC entende que se tratou de um movimento menos relacionado à venda da unidade e mais por conta do cenário do país, com a piora do ambiente político. O fundo soberano da Noruega, e grandes investidores asiáticos fizeram saques relevantes no período, de bolsa principalmente. “A percepção de Brasil piorou nos últimos meses, com exceção de um período inicial de euforia quando o Levy foi anunciado”.
Entre as seguradoras, a asset do HSBC fechou o período com R$ 2,32 bilhões e por pequena margem perdeu a quinta posição para o BTG Pactual, que apresentou um avanço de 80% em doze meses, para R$ 2,35 bilhões. Esse segmento, explica Canto, reflete o desempenho do Fundo Multipatrocinado do HSBC, que no início do ano perdeu R$ 80 milhões de um fundo de caixa da HDI Seguros, que optou por diversificar parte da carteira de crédito, que estava 100% concentrada no HSBC. A maior parte, no entanto, de R$ 400 milhões, ainda permaneceu na gestora.

BNP Paribas – A BNP Paribas Asset Management manteve a nona colocação entre as principais gestoras com fundos de pensão, mas entre as dez maiores no segmento foi a que teve o crescimento mais destacado em doze meses até junho, de 34,8%, para R$ 12 bilhões. “Nos beneficiamos por ter uma marca importante na renda fixa, especialmente a competência no crédito privado”, diz Luiz Sorge, CEO da asset do BNP Paribas. Nos seis primeiros meses de 2015, a carteira de crédito privado teve captação positiva de R$ 2 bilhões, e com as entradas de julho, o montante já subiu para R$ 5 bilhões.
“Negamos entradas em várias emissões por considerarmos que o prêmio não justificava o risco. Não está simples a busca por emissões, mas continuamos mais conservadores do que a média do mercado”, afirma Sorge. O executivo recorda ainda que em outubro do ano passado a BNP Paribas Asset recebeu o rating de elevado padrão da Fitch, o que também pode ter auxiliado na atração dos sete novos clientes.
A gestora também teve evolução importante na previdência aberta, de 40%, que contou com a ajuda de uma base ainda relativamente pequena, de R$ 432 milhões. O executivo explica que o incremento decorre das parcerias da asset, que tem feito a gestão de produtos para algumas seguradoras que tem plataforma aberta. Entre as seguradoras que trabalham em conjunto com a gestora estão MetLife, Mapfre e Zurich. Para o segundo semestre, a gestora costura uma parceria estratégia com a Caixa Seguradora, que tem entre seus sócios a francesa CNP Assurances, para distribuir um PGBL empresarial.

Disputa pelos RPPS – Investidores de peso em renda fixa, os regimes próprios viram suas carteiras crescerem impulsionadas pelos elevados prêmios pagos por títulos públicos no período, ativos que ainda são emitidos com cupons acima de 6% mais inflação. Fundos atrelados à Selic também têm puxado a rentabilidade das carteiras dos regimes próprios. “O atual patamar dos juros e do prêmio exigido pelos investidores para adquirir dívida do governo vem beneficiando os clientes que mais demandam renda fixa, que é o caso dos RPPS, um público prioritário para nós”, afirma Sérgio Henrique Oliveira Bini, gerente nacional de investidores corporativos da Caixa Econômica.
De acordo com o executivo, as incertezas que sondam a economia brasileira também devem permear as decisões de investimentos no segundo semestre, levando os institucionais a manter as apostas na renda fixa, principalmente em títulos públicos pré e pós-fixados, segmento de menor risco e alta liquidez.
Na avaliação de Bini, os estruturados devem até perder clientela dos regimes próprios já a partir de 1º de outubro, quando entram em vigor as novas regulamentações da CVM, que reclassificam os investidores em qualificados e profissionais. Isso porque os regimes próprios deverão seguir os critérios estipulados pelo Ministério da Previdência, e não pelo órgão regulador do mercado de capitais.
As novas regras determinam que apenas 20% do sistema elegível à nova nomenclatura. Antes, mais de 80% estava no hall dos qualificados e tinham acesso a fundos estruturados de direitos creditórios e de participações. Fundos imobiliários, contudo, continuarão a ser uma opção mesmo para os RPPS menores, visto que o produto é liberado para qualquer investidor de varejo. Para ser profissional, as exigências são ainda mais rígidas. Somente os RPPS que possuírem mais de R$ 1 bilhão em investimentos poderão ser profissionais. “As assets manterão os RPPS como clientes, pois eles estão atados por lei a investir a maior parte de seus patrimônios em ativos via fundos. Desta forma, a única diferença para a indústria é que os recursos que antes estariam destinados a estruturados, no caso dos RPPS qualificados, agora serão alocados em peso em fundos de renda fixa”, analisa Bini.
A Caixa é a instituição com a maior fatia de mercado entre os RPPS do país. Ao todo, ela administra R$ 41,06 bilhões de patrimônio dos entes de previdência . A instituição também foi a que mais cresceu no segmento, registrando alta de 28,3% no volume sob gestão em doze meses.
Em segundo lugar vem a BB DTVM, responsável pela gestão de R$ 38,22 bilhões em patrimônio dos RPPS do país. Entre as instituições que trabalham com o segmento, apresentou o terceiro maior crescimento dos últimos doze meses (17,8%). “Com a vigência da nova classificação dos investidores, os institutos passarão por um período de transição e aprendizado muito importantes. Assim que forem atingindo conhecimento e experiência suficientes para diversificar investimentos, que é o objetivo do Pró-gestão, eles farão investimentos com mais segurança e de maior qualidade”, comenta Carlos Takahashi, presidente da BB DTVM. Na visão do executivo, independentemente de classificações, os RPPS poderão se beneficiar significativamente do desempenho bom da renda fixa atualmente.