Recuperação dos Fidcs | FIDCs param de cair e apresentam ligeiro ...

Edição 273

 

Os fundos de participações e imobiliários andaram para trás no primeiro semestre de 2015. O volume de ativos diminuiu em ambos os casos e, se não fosse pela captação com estrangeiros, o resultado teria sido pior. Pátria, BTG Pactual e alguns outros gestores aproveitaram a demanda que continuou alta por parte dos investidores externos para captar com seus fundos para o Brasil. Segundo maior em FIPs, atrás apenas da Caixa, o Pátria captou com um fundo de infraestrutura, enquanto o BTG Pactual, terceiro maior em FIPs, encerrou captação de um produto de florestas. O destaque positivo entre os estruturados ficou com os FIDCs, que romperam com a tendência de queda dos últimos semestres.
Com R$ 60,5 bilhões em volume de ativos nos seis primeiros meses do ano, os Fidcs vinham de um histórico de crescimento negativo desde o último semestre de 2013. Desde então, a queda foi se acentuando, chegando a um acumulado de 27,43% nos 12 meses encerrados em junho de 2014. A tendência de queda foi desacelarada no segundo semestre do ano passado, com 2,71% negativos e finalmente foi rompida no primeiro semestre de 2015, com avanço de 1%. Em 12 meses, a queda ficou em 2%, bem menor que em períodos anteriores.
Para Rebeca Correa Balian, gerente nacional de desenvolvimento de fundos estruturados da Caixa Econômica, a restrição ao crédito para companhias estimula a instituição a prospectar fundos de direitos creditórios. “É um momento em que o crédito está mais escasso e mais caro. Instrumentos de mercado, como fundos de direitos creditórios, são boas alternativas para empresas continuarem operando saudáveis”, explica.
A Caixa planeja lançar dois Fidcs ainda este ano e mais um no primeiro semestre de 2016. “Conseguimos colocar esses fundos a um preço que faça sentido para as companhias e atender regimes próprios e fundos de pensão, que têm que bater meta”, salienta Rebeca.
Ricardo Binelli, gestor de recursos do Petra, também destaca o bom momento dos Fidcs por conta da retração dos bancos em relação à concessão de crédito. “Especialmente as pequenas e médias empresas (PMES) acabam utilizado Fidcs como instrumento de financiamento das operações”, diz Binelli.
A Petra ocupou o sexto lugar no ranking do segmento de Fidcs, com 14,5% de crescimento em seis meses e 49,2% em 12 meses. “O ano passado como um todo tinha sido morno, mas no último trimestre, tivemos aceleração”, explica Binelli. “Já no primeiro semestre deste ano, esse crescimento está mais construído na valorização de operações já existentes do que de novas captações. Temos bastante indicação de Fidcs que planejaram emitir séries novas”.
Em segundo lugar na categoria de Fidcs, a Oliveira Trust teve crescimento expressivo de 21,18% no primeiro semestre e de 44,5% no acumulado de 12 meses, se recuperando em relação ao último semestre do ano passado, quando cresceu apenas 19,29% e ocupou o terceiro lugar no ranking.

FIPs – Por outro lado, os fundos de participações, que até então eram destaque do ranking entre estruturados, tiveram um semestre mais difícil, com queda de 1,29% e no acumulado dos 12 meses, crescimento de 10,66%, abaixo dos semestres anteriores. Caixa, Pátria e BTG Pactual ocupam, respectivamente, o primeiro, segundo e terceiro lugar na colocação da categoria com base em seu volume de ativos.
Com crescimento de 0,03% no semestre e 10% em 12 meses, a Caixa tem se mantido na liderança do ranking com um total de 22 FIPs. “A Caixa vem maturando esses fundos lançados no final de 2014, ou antes disso, e a maior parte está em período de investimento”, explica Rebeca. Para a executiva, o momento é de trabalhar e investir nesses fundos, e o desempenho não tão expressivo no primeiro semestre se deve ao momento em que os fundos foram preparados e as captações iniciadas.
O Pátria, por sua vez, encerrou no primeiro semestre a captação de um fundo de infraestrutura em US$ 1,75 bilhão com destaque para a captação com estrangeiros. Além disso, a gestora está terminando de captar um FIP de imóveis. “Obviamente que há uma piora de cenário com a alta da taxa de juros locais, pois o investidor que pode investir em renda fixa passa a ser mais seletivo”, explica Nemer Rahal, sócio da área de relações com investidores do Pátria Investimentos.
“A mesma análise é feita para o internacional, que se vê em um cenário mais difícil por ser mais seletivo”, continua Rahal. “Considerando que temos uma base diversificada, conseguimos manter nosso processo caminhando. O cenário pode ter se tornado mais desafiador, mas não impediu captações”.
O executivo diz ainda que a gestora tem alguns projetos sendo trabalhados, mas sem perspectiva de se materializarem já no segundo semestre. “Temos que achar não só oportunidades, mas o time certo e a captação inicial dentro da própria instituição. Imaginamos que algo possa sair, mas não sei quando. E se aparecerem oportunidades de fundos bem estruturados que consigamos apresentar para os investidores e passar com consistência, haverá espaço para captação”, complementa Rahal.

Segundo semestre – Terceiro colocado no ranking, o BTG Pactual Asset Management não prevê novos lançamentos de fundos estruturados neste momento. A asset do banco encerrou captação para o fundo de florestas em US$ 800 milhões e está começando a fase de investimentos. “A projeção era captar US$ 750 milhões, mas superamos um pouco a expectativa. A captação no mercado doméstico, contudo, foi um pouco abaixo do que esperávamos. Captamos cerca de R$ 120 milhões com fundos de pensão e RPPS, mas a expectativa era captar entre R$ 200 milhões e R$ 250 milhões”, explica Marcelo Flora, sócio e responsável pela área comercial da asset do BTG Pactual.
Flora diz que com o ambiente de juros mais altos, o mercado se torna mais desafiador. “No curto prazo, não temos intenção de lançar novos fundos de participações. Temos algumas investidas de nossos fundos que foram reavaliadas. Houve uma marcação de valor mais conservadora, para baixo. Com a marcação a mercado, houve desvalorização das cotas. O principal exemplo é a Sete Brasil, que é investida pelo FIP Sondas”, explica. O FIP Sondas é gerido pela Caixa, mas o BTG Pactual tem exposição grande por meio do FIP Infra II.
A Votorantim Asset Management (VAM) também acredita que o crescimento será mais modesto, sem nenhuma operação para finalizar captação. Ainda assim, a gestora planeja o lançamento de um FIP imobiliário, que deve ter a captação finalizada apenas no final do ano. A perspectiva é captar R$ 500 milhões com esse fundo, prevê Reinaldo Lacerda, diretor de produtos estruturados da VAM.
A VAM teve crescimento de 9,9% nos seis primeiros meses do ano no segmento de FIPs, mas no acumulado de 12 meses a alta foi de 85%, muito devido aos FIPs imobiliários captados no final do ano passado.

Fundos imobiliários – Segundo Marcelo Flora, do BTG Pactual como a dinâmica dos fundos imobiliários está estreitamente vinculada com o comportamento das taxas de juros, com o ciclo de abertura das taxas dos últimos meses, houve desvalorização das cotas dos FIIs. “Já verificamos uma pequena recuperação nos últimos meses, mas longe de recuperar os estoques do passado”, explica. A asset do BTG Pactual manteve o primeiro lugar no ranking na categoria de fundos imobiliários, mas a captação em 12 meses sofreu queda.
“Uma parte das perdas dos FIIs também é explicada pelo aumento da taxa de vacância dos imóveis, que está maior agora. O mercado é cíclico e desde o ano passado, com o fim do ciclo, percebemos uma estabilização dos valores de aluguéis, que não são reajustados como antes. A inflação vai corroendo o ganho com os aluguéis”, salienta Flora.
Apesar disso, o executivo acredita em uma melhora para o cenário daqui para frente. “A boa notícia é que o Copom parece que vai encerrar o ciclo de alta da Selic e isso tende a impactar positivamente sobre o mercado de fundos imobiliários”, projeta Marcelo Flora.
Augusto Martins, sócio da área de Investimentos Imobiliários da Rio Bravo, também destaca as dificuldades em captar recursos para novos fundos. “O ambiente macroeconômico tem dificultado a captação”, diz. Martins também projeta um cenário de recuperação para o setor e já destaca uma melhora do mercado em relação ao ano passado.
“O IFIX ficou, no primeiro semestre, acima de todos os benchmarks de mercado e a nossa visão é que a queda que tinha ocorrido nos preços foi excessiva. Quando olhamos o preço de mercado dos fundos e quanto vale os ativos, avaliamos que no médio prazo esses fundos vão valorizar, pois a queda foi além do razoável. Mesmo assim, vamos continuar um ciclo de valorização que deve ser um pouco moderado no segundo semestre”, diz Martins.