Em busca de perenidade | As entidades fechadas de previdência complementar são agentes importantes para a disseminação de práticas de investimento responsável
Edição 237
Tanto é que cerca de um terço dos signatários brasileiros do PRI (Principles for Responsible Investment, ou Princípios para o Investimento Responsável) são fundos de pensão. Hoje, fazem parte da base de signatários da iniciativa na categoria de “detentores de ativos” Banesprev, Celpos, Centrus, Economus, Faelba, Fasern, Forluz, Funcef, Fundação Cesp, Infraprev, Mongeral Aegon Seguros e Previdência, Petros, Postalis, Previ, Real Grandeza, Sistel e Valia.
Vale lembrar que muitas fundações adotam hoje a terceirização da gestão para parte ou a totalidade de seus investimentos. Esse é o caso da Faelba – Fundação Coelba de Previdência Complementar, por exemplo, que transfere 100% de sua gestão de recursos para terceiros e fica atenta aos critérios de responsabilidade socioambiental na hora de eleger quem serão seus prestadores de serviços.
“Como a nossa gestão de recursos é terceirizada, no processo de seleção de gestores as questões de meio-ambiente, desenvolvimento social e governança corporativa contam como fator de desempate. Pode acontecer de dois gestores ficarem com a mesma avaliação em critérios quantitativos como performance em determinado período e determinada estratégia. Na etapa qualitativa, em que fazemos due diligence nos candidatos, introduzimos as premissas de investimento responsável. Nós verificamos, nas conversas com os gestores, como de fato essas questões são aplicadas na seleção dos investimentos. No relatório final, nossa escolha vai pesar mais em favor daqueles gestores que efetivamente adotam esses critérios na tomada de decisão sobre as aplicações”, detalha Jeremias Xavier de Moura, diretor administrativo-financeiro da Faelba.
O diretor conta que essa prática é usada pela fundação há quase cinco anos, quando a entidade se tornou signatária do PRI. Hoje, a Faelba conta com cerca de 16 gestores de recursos como prestadores desse tipo de serviço. “Para a seleção deles, nós avaliamos as suas práticas em relação à aplicação de critérios de meio-ambiente, desenvolvimento social e governança corporativa na escolha de investimentos e como é que eles se posicionam em relação a essas premissas porque são os gestores que vão de fato influenciar no comportamento das empresas. Muitas vezes, as operações dos gestores com ações se dão em um volume tal que lhes concede um assento no conselho da empresa. Assim, eles podem efetivamente ajudar a mudar o direcionamento das políticas empresariais no sentido das melhores práticas socioambientais e de governança corporativa”, aponta Moura.
Retorno sustentável – O diretor afirma que as empresas que adotam as melhores práticas tendem a contar com um negócio mais sustentado e não geram resultados apenas circunstanciais. “Os fundamentos das companhias que adotam essas práticas são muito bons. São empresas que tendem a ter mais longevidade, com seus negócios apresentando uma performance melhor no longo prazo em comparação com aquelas que não adotam práticas de responsabilidade socioambiental e de governança corporativa. As companhias que não têm esse tipo de preocupação podem inclusive desaparecer com o passar do tempo”, alerta Moura.
Para incentivar a adoção dessas práticas pelas empresas, ele lembra que existe todo um movimento capitaneado pela ONU que envolve “vários agentes econômicos no sentido de catalisar a valorização de ativos pelas melhores práticas de gestão”. Ele lembra que a própria sociedade já dá valor a empresas que têm uma conduta responsável nas áreas de meio-ambiente e desenvolvimento social. “As pessoas até concordam em pagar um pouco mais por um produto de uma empresa que tem um compromisso maior em relação à preservação ambiental e outras práticas de sustentabilidade. Afinal, de que adianta ganhar dinheiro e desequilibrar a sociedade? Todo mundo vai pagar mais tarde por isso. Então, cada um tem de fazer a sua parte, de forma coordenada”, indica o diretor da Faelba.
Moura acrescenta que o mercado financeiro também vê mais valor em empresas responsáveis social e ambientalmente, assim como as que têm boas práticas de governança corporativa. “O valor das ações dessas companhias tende até a cair menos em momentos de crise. Quando se faz uma avaliação em momentos de turbulência, um dos pontos analisados é como aquela empresa vai se comportar no pós-crise. E normalmente empresas que adotam práticas responsáveis atravessam melhor um cenário de crise porque conseguem harmonizar melhor os conflitos e têm outros valores agregados. Posso dizer que já há uma percepção de valor diferenciada por parte dos investidores em relação a essas empresas”, garante. Ele completa que a boa governança, por exemplo, é uma questão bastante valorizada pelo mercado. “Tanto é que um bom negócio é pegar uma empresa boa, que atua em um bom segmento, mas não tem uma boa governança; comprar uma fatia relevante dessa companhia; e implementar práticas para aprimorar a sua governança. Esse movimento valoriza a ação da empresa. O mercado, que está atento às movimentações das empresas, atribui valor às ações por conta das boas práticas”, cita Moura.
O compromisso com o investimento responsável fez a Faelba, cujo patrimônio é da ordem de R$ 1,3 bilhão, incluir em sua política de investimentos o item “Observação dos Princípios Socioambientais”.
Carteira própria – Paulo Julião, diretor financeiro do Economus, segue na mesma linha que Jeremias Xavier de Moura ao destacar as vantagens apresentadas pelas empresas que têm boas práticas de responsabilidade socioambiental. “As empresas já perceberam que investir em negócios sustentáveis é questão de sobrevivência da própria atividade empresarial e os fundos de pensão, por deterem boa parte da poupança mundial, devem optar por fazer parcerias com companhias que sejam comprometidas com as questões ambientais, sociais e de governança”, indica o diretor. Ele acrescenta que o Economus foi um dos primeiros fundos de pensão do Brasil a aderir ao PRI, por acreditar que a sustentabilidade requer a preocupação e o comprometimento mundial.
Julião informa que no processo de análise e seleção de investimento do Economus existe a preocupação em conhecer a administração e a gestão do negócio, que fará a empresa investida se valorizar. “Neste sentido, entendemos que os negócios inclinados para a questão ambiental, social e de governança apresentam maiores chances de valorização no longo prazo”, aponta. Ele completa que empresas que já estão na composição do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e/ou no Índice Carbono Eficiente (ICO2), ambos da BMF&Bovespa, e que já incorporaram em seus negócios ações voltadas para a conservação e uso sustentável da biodiversidade, além de estratégias sociais e de governança corporativa, são priorizadas nas decisões de investimentos da entidade.
“O Economus, em sua carteira própria de ações, possui investimento em empresas que estão listadas no ISE, tendo como principal referência empresas socialmente responsáveis, e também no ICO2, com companhias que adotam práticas transparentes com relação às suas emissões de gases de efeito estufa”, afirma o diretor.
Além do investimento – Além de ser notadamente reconhecida por seu engajamento no investimento responsável, tendo participado do PRI desde a concepção da iniciativa, a Previ, maior fundo de pensão do Brasil, também adota boas práticas em seu dia a dia operacional.
De acordo com matéria sobre sustentabilidade publicada no site da fundação, a Previ, por meio de seu programa de consumo consciente, monitora o consumo de água, energia, papel, cartucho e toner de impressora. “Como exemplo de resultado desse esforço, de 2010 para 2011 houve a redução de cerca de 11% no volume total de papel utilizado pela entidade. Além disso, quanto à reciclagem de lixo, a instituição implantou em todas as suas gerências latas para recolhimento de resíduos úmidos, visando preservar o lixo seco (principalmente papel), permitindo, dessa forma, maior alinhamento com o processo de reciclagem adotado pelo prédio em que está instalada (Centro Empresarial Mourisco). O Centro Empresarial Mourisco possui a certificação ISO 14.001”, informa o texto.
A matéria diz ainda que, “como forma de estimular a adoção de tais práticas de consumo consciente também fora da instituição, a Previ, em 2010, no lançamento do programa interno Previ Consciente, distribuiu para todos os funcionários sacolas retornáveis feitas de banners antigos de eventos”.